quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

PARA BELCHIOR, COM AMOR

Belchior está entre os grandes artistas do seu tempo, por ter produzido uma das obras mais relevantes das letras brasileiras. Sem sombra de dúvidas, o autor de “divina comédia humana” está no mesmo nível qualitativo, poeticamente falando, de Bob Dylan, o que não é pouco, convenhamos.

Mas Belchior, assim como Dylan, não perde seu tempo com as idiossincrasias da mediocridade. Belchior, por exemplo, já deixou claro em entrevistas, que não é a fama que lhe interessa, mas a glória. Seja como for, o bardo cearense já registrou seu nome na história da cultura brasileira. Sua obra é, indiscutivelmente, um perfeito repositório de reflexões a respeito do homem e da cultura do seu tempo. 

Para alguns estudiosos da sua obra, Belchior compõe como se pintasse um quadro, daí a qualidade observada na escolha que faz de cada palavra na elaboração de seus poemas. Utilizamos aqui a lexia “poema”, por considerarmos que suas composições vão muito além da convencionalidade de uma letra de música. 

As composições do poeta de Sobral constituem-se em uma poesia tão grande quanto aquela produzida por João Cabral de Melo Neto, por exemplo. São secas e objetivas. São navalhas. Na sua metapoesia diz que não pode cantar como convém sem querer ferir ninguém. E embora afirme que sua poesia é “apenas uma canção”, ele sabe muito bem que não é só isso, ou seja, o poeta de “galos, noites e quintais” tem plena consciência do seu fazer poético, e o executa como o faz o ourives do poema “Profissão de fé”, de Olavo Bilac.

O presente texto, no entanto, não tem como objetivo discorrer sobre a poética de Belchior, mas apresentar, sucintamente, o livro que sai pela editora Miragem, como forma de homenagear o referido artista no ano em que se comemoram seus setenta anos de idade. O livro recebeu o título de Para Belchior com amor (2016), tendo sido organizado pelo escritor Ricardo Kelmer, o qual também é responsável pela apresentação do livro. O texto literário de Kelmer foi baseado no poema-canção “Divina comédia humana” (p.45-50). Ao todo, livro é composto de catorze textos literários, escritos por conterrâneos de Belchior, e livremente inspirados nas suas canções.

Na ordem em que surgem no livro, os textos são: “Alucinação” (p. 9 -13), por Thiago Arrais; “A palo seco” (p.15-20), por Ana Karla Dubiela; “Apenas um rapaz latino-americano” (p.21-28), por José Américo Bezerra Saraiva; “Como nossos pais” (p. 29-32), por Ricardo Guilherme; “Conheço meu lugar” (p. 33-35), por Ethel de Paula; “Coração selvagem” (p.37- 43), por Cleudene Aragão; “Fotografia 3x4” (p.51-54), por Raymundo Netto; “Galos, noites e quintais” (p.55-59), por Joan Edesson de Oliveira; “Na hora do almoço” (p.61- 67), por Gero Camilo; “Paralelas” (p.69-72), por Carmélia Aragão; “Sujeito de sorte” (p.73-77), por Jeff Peixoto; “Todo sujo de batom” (p.79-81), por Xico Sá; “Velha roupa colorida” (p.83-86), por Roberto Maciel. O livro traz ainda uma breve biografia de Belchior (p.93-94), bem como algumas informações sobre cada um dos autores que contribuíram com seus textos (p.88-91). No total, o livro tem noventa e seis páginas.

Dos contos e crônicas que compõem Para Belchior com amor, destacamos especificamente aqueles escritos por Ana Karla Dubiela, Cleudene Aragão e Joan Edesson de Oliveira por terem, a nosso ver, alcançado de maneira medular, o cerne da poesia de Belchior.

A ideia de Ricardo Kelmer é bastante oportuna e louvável, uma vez que a imensidão poética contida na obra poética do autor de “Elegia obscena” precisa ser cada vez mais estudada, discutida e divulgada; como convém ao trabalho dos grandes mestres. Assim, sabendo-se que os pontos de vista acerca da poesia de Belchior não cabem em um livro de noventa e seis páginas, esperamos que a ideia se mantenha e se amplie. Que venha o próximo!