O mundo parece estar em
marcha acelerada a caminho do caos. A humanidade não deu certo. Nada parece ser
mais natural do que a morte anunciada do planeta. E, por mais que falemos de
amor, de gentileza ou de paz; parece que falamos sempre da boca pra fora. Poucos
são aqueles que pensam o mundo a partir do bem comum, mas apenas neles próprios
como se tudo na vida se desse de maneira individualizada.
Nesse torvelinho da
miséria humana, picadeiro de circo de horrores, o ser humano tem abandonado
tudo em busca do nada. Mas um nada vazio destituído de qualquer valoração
existencial. Um nada às avessas daquele nada hemingwayniano. No âmbito da
sociedade espetaculosa, está cada vez mais difícil encontrar um lugar limpo e
bem iluminado onde se possa sentar, beber e ver o mundo passar.
No meio desse tudo
nadificado, a Poesia se mantém como uma forma de imposição aos ditames do efêmero.
Impávida e antropofágica, a poesia captura o entorno; transformando o que há
naquilo que o poeta sente. Em tempos de vaguidão moral e ressignificação da
arte, a poesia precisa ser um farol a servir de balizadora para aqueles que
ainda anseiam por apreender o que as palavras podem dizer. Nesse contexto,
convém atentarmos para as palavras poéticas de Carlos Nóbrega, poeta cearense
que tem a responsabilidade de trilhar os caminhos percorridos por mestres como José
Albano (1882 – 1923), Francisco Carvalho (1927 – 2013), Otacílio de Azevedo
(1892 – 1978) e Jáder de Carvalho (1901 – 1985).
A poesia de Carlos
Nóbrega se espalha (e se espraia) por vários livros, contemplados com diversos
prêmios em nível nacional. Dentre tantos de seus trabalhos, nos chama atenção o
seu Lápis Branco (2012), publicado
pela editora Penalux, de Guaratinguetá. Como
afirma o próprio autor, na página 114, o livro deveria se chamar “Grifo Meu”
(título do poema p. 69). Contudo foi alertado para presença do cacófato “fomeu”,
o que, convenhamos, mata qualquer coisa, principalmente livros. A partir daí, o
poeta desistiu de grifar o que quer que fosse, optando por batizar seu rebento
de Lápis Branco.
Para Nóbrega, o título “lápis branco” assumiria um caráter de neutralidade, remetendo a um grande silêncio sobre a página branca. Trata-se, certamente, daquele momento de confronto entre o autor e o branco da página (ou a tela do computador), quando do esforço para se parir o primeiro parágrafo (na prosa) ou o primeiro verso do poema. E aqui concordamos com o autor, uma vez que “grifo meu”, mesmo excetuando-se o cacófato, teria sido um título pra lá de medonho. Lápis Branco, no entanto, além de trazer em si a ideia do embate entre autor e a esfíngica página branca no momento da criação, também abre para a possibilidade de se compreender que por sobre o branco, inúmeras outras cores e diferentes matizes podem ser observados, haja vista o que nos diz Darcy Damasceno (1922 - 1988) acerca dos seus trabalhos sobre as cores na poesia de Cecília Meireles (1901 - 1964). Assim sendo, não podemos concordar com o autor acerca da possível neutralidade do título. Se assim o fosse, tal neutralidade poderia incindir sobre uma suposta neutralidade da própria poesia, o que não é aceitável, uma vez que nenhuma forma de expressão artística é neutra. Ao contrário, a arte, e em específico a Literatura, deve estar comprometida com o sujeito e com as transformações necessárias ao meio que nos circunda.
Para Nóbrega, o título “lápis branco” assumiria um caráter de neutralidade, remetendo a um grande silêncio sobre a página branca. Trata-se, certamente, daquele momento de confronto entre o autor e o branco da página (ou a tela do computador), quando do esforço para se parir o primeiro parágrafo (na prosa) ou o primeiro verso do poema. E aqui concordamos com o autor, uma vez que “grifo meu”, mesmo excetuando-se o cacófato, teria sido um título pra lá de medonho. Lápis Branco, no entanto, além de trazer em si a ideia do embate entre autor e a esfíngica página branca no momento da criação, também abre para a possibilidade de se compreender que por sobre o branco, inúmeras outras cores e diferentes matizes podem ser observados, haja vista o que nos diz Darcy Damasceno (1922 - 1988) acerca dos seus trabalhos sobre as cores na poesia de Cecília Meireles (1901 - 1964). Assim sendo, não podemos concordar com o autor acerca da possível neutralidade do título. Se assim o fosse, tal neutralidade poderia incindir sobre uma suposta neutralidade da própria poesia, o que não é aceitável, uma vez que nenhuma forma de expressão artística é neutra. Ao contrário, a arte, e em específico a Literatura, deve estar comprometida com o sujeito e com as transformações necessárias ao meio que nos circunda.
No que diz respeito à
estrutura de Lápis Branco (2012),
tem-se uma obra composta de cento e quatro poemas, os quais não seguem
estruturas formais; prevalecendo a preferência pelo verso livro. Ainda no que
concerne à forma, observa-se o recurso estilístico de inserir no poema uma
pergunta norteadora, a qual costuma vir no verso final do texto. Quando isso se
dá, o poema é, na maioria das vezes, calcado na divagação do eu lírico. Isso
pode ser notado nos poemas “Companheira de viajem” (p.12), “Café” (p.15), “Flor
amorosa” (p.17), “Sobre o 3:19 do Gênesis” (p.20), “Quem” (p.31) e “19/08/2012”
(p.68).
Os conteúdos a partir dos quais se constitui a
matéria poética do autor de Árvore de
manivelas (2007) abarcam temáticas as mais variadas. Assim sendo, o poeta
provoca intertextualidades com outros autores, quando revisita temas caros à
poesia universal. Um exemplo é quando intitula de “Fumo” seu poema da página
13, remetendo o leitor, obrigatoriamente, para a poesia de Florbela Espanca
(1894 -1930). Outras aproximações de dão, por exemplo, em “Flor amorosa”
(p.17), quando o poema se estrutura a partir da letra de mesmo nome, escrita
por Catulo da Paixão Cearense (1863 - 1946) para a música de Joaquim Antonio da
Silva Callado Júnior, um dos pais do Choro, (1848 - 1880). No referido poema,
Nóbrega afirma que a música “Flor amorosa” é de autoria de Catulo da Paixão
Cearense. O poeta corrige a informação em “Por último” (p.114).
Poetas diferentes em
tempos diferentes poetizam sobre temas semelhantes, uma vez que determinadas
temáticas, por sua simbiose com a condição humana, se mostram tanto universais
quanto atemporais. Dessa forma, surgem do lápis branco do poeta, e brotam no
vazio da página, temas como a memória (p.24, p.41, p.49, p.65, p.83, p.99,
p.103), a água (p.42, p.57, p.72, p.84, p.111), o mar (p.66, p.67) a língua
portuguesa (p.46, p.69), a metapoesia (p.28, p.62, p.71, p.81, p.105, p.112,
p.113), o cotidiano (p.75, p.95), a morte/os mortos (p.21, p. 24, p.37, p.52,
p.53, p.54, p.65, p.82, p.88, p.89, p.90, p.92, p.96, p.109), o crescimento
urbano (p.14), o tempo (p.16, p.58, p.68), as coisas comuns/os objetos (p.22,
p.25, p.26), o olhar (p.22, p.61, p.82), espaços (p.43, p.44, p.45, p.47, p.48,
p.51, p.106), mulher (p. 52, p.56, p.63), religiosidade/fé (p.58, p.59, p.60),
amor/sexo (p.77, p.78, p.80, p. 104). Além desses, observamos ainda “insônia”, “vida”,
“depressão”, “tristeza” e “dor”; entre inúmeros outros.
Mas se me perguntarem,
afinal, do que tratam os poemas de Carlos Nóbrega, não saberia dizer. Por qual
razão? Ora, um poema sempre fala de outra coisa.
Boa leitura!