quarta-feira, 20 de outubro de 2021

Extraterrestre : o primeiro sinal de vida inteligente fora da terra, de Avi Loeb

O título do livro do professor Avi Loeb, de início pode nos induzir ao erro. Podemos, sim, ser levados a acreditar tratar-se de um livro no qual leremos sobre abduções e homenzinhos verdes surgindo aqui e ali. O blog defende que em vez de "extraterrestre" (claro que há a questão mercadológica) se tivesse sido grafado 'Omuamua, o efeito seria muito mais interessante, o que o leitor poderá comprovar ao
longo da leitura do trabalho de Loeb. Em termos bem gerais, o livro em questão é uma belíssima abordagem, com todo o embasamento teórico-científico necessário, acerca da presença de outros seres no universo. A defesa que o prof. Loeb faz disso parte da presença em nosso sistema solar de um objeto cujas características jamais foram vistas, embora a comunidade científica tenha se apressado a classificá-lo como um "mais do mesmo", ou seja, um asteroide ou um tipo de cometa, o que, ao longo do texto, será desconstruído parte a parte pelos argumentos de Loeb.

A partir da orelha do livro, vejamos do que se trata:

"Em outubro de 2017, cientistas de um dos maiores observatórios espaciais do mundo — localizado no topo de um vulcão dormente no Havaí — detectaram um objeto transitando por nosso sistema solar. A primeira hipótese foi a de que se tratava de um mero asteroide, como tantos outros que cruzaram e seguem cruzando nossa galáxia. Mas os dados coletados pelo telescópio Pan-STARRS1 revelaram detalhes curiosos, e bem anômalos, no comportamento desse visitante.

Diferentemente de meteoros e asteroides, o objeto, batizado de ‘Oumuamua, não liberava gases e não
deixava rastro de poeira estelar e detritos em sua passagem. Seu eixo de rotação era contínuo e estável, sem sinal dos típicos solavancos dos cometas. Mas o dado mais atípico de todos era sua trajetória: seu movimento não era orientado apenas pela gravidade exercida pelo Sol.



A comunidade científica se alvoroçou com a descoberta, mas tudo que foi registrado durante a breve passagem do ‘Oumuamua revelou-se insuficiente para que se compreendesse mais a fundo a origem de seu comportamento. Seguindo linhas mais conservadoras de pesquisa, a maioria dos astrônomos decidiu mantê-lo na categoria de asteroide raríssimo. Menos um.

Em Extraterrestre, o proeminente catedrático de Harvard Avi Loeb segue na contramão do status quo científico e investiga as chances reais de que tenhamos, pela primeira vez, sido acessados por uma tecnologia extraterrestre. Mas aventar a possibilidade de que o ‘Oumuamua tenha sido criado por uma civilização extraterrestre — viva ou extinta — é apenas uma das frentes de batalha do astrônomo israelense. A principal delas é derrubar a fronteira do pensamento que até aqui nos impediu de acreditar na possibilidade de não estarmos, de forma alguma, sozinhos na imensidão do universo".

Além da convincente defesa que faz acerca do 'Omuamua, como um visitante interestelar, o livro do professor Avi Loeb é uma aula sobre o comportamento dos cientista e, consequentemente, da academia diante da possibilidade do novo, quando muitas vezes insistem em se manter atados ao mesmo, sem que se consiga perceber o óbvio. Trata-se de um livro de indispensável leitura, uma vez que seu autor discorre sobre inúmeras outras temáticas que se unem e que se justificam, quando não se afastam, que dizem respeito ao nosso estar-no-universo, espaço o qual por muito tempo se pensou, ingenuamente, ser só nosso. Assim, a partir da pergunta "estamos sós no universo" o professor Avi Loeb elabora questionamento que se mostram bastante urgente nas discussões acadêmicas. Seja como for, a leitura da obra em questão, por sua qualidade argumentativa, se faz urgente e necessária.


AVI LOEB é chefe do departamento de Astronomia da Universidade de Harvard, onde também fundou e dirige o maior centro de pesquisas sobre buracos negros do mundo, a Black Hole Initiative. É diretor do Instituto de Teoria e Computação do Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics, presidente da Breakthrough Starshot Initiative e membro do conselho consultivo do governo norte-americano para ciência e tecnologia, entre outras atividades. É autor de oito livros e de mais de 800 artigos científicos. Em 2012, a revista Time o elegeu uma das 25 pessoas mais influentes do mundo no campo da astronomia. Hoje ele mora em Boston, Massachusetts.

 

segunda-feira, 11 de outubro de 2021

Nos rastros de uma migração: representações, memórias e sensibilidades, de Vilarin B. Barros


Em meio ao caos que impera no país, somente agora consegui um tempinho para um breve descanso, uma trégua. Não que minha situação se compare em tudo àquela do senhor Martín Santomé, personagem do clássico romance La Tregua (1960), de Mario Benedetti, embora guarde certas aproximações. No entanto, é sempre bom quando conseguimos desligar nosso “disjuntor interno”, para que possamos retornar mais atentos e fortes.  Quando tudo o que nos resta é apenas cansaço, uma pausa na correria do dia-a-dia nos cai feito um cafuné, um afago, vindo daqueles a quem amamos.


Assim, o abraço da mulher amada e o sorriso da filha pequena gargalhando junto à mais velha nos enche de alegria a alma e o coração, de forma que até tentamos esquecer o esgoto político que escorre das veias abertas da republiqueta de bananas e ossos na qual transformaram o Brasil. E foi nesse clima
de momentânea calmaria, que consegui concluir a leitura do livro Nos rastros de uma migração: representações, memórias e sensibilidades, de Vilarin Barbosa Barros; publicado no ano de 2020 pela editora e-Manuscrito, resultado da dissertação do autor defendida junto à Universidade Estadual do Ceará – UECE.

Na obra em questão, o professor Barros analisa as experiências dos migrantes de Quixadá, um dos principais municípios do sertão central cearense, que deixavam suas casas e famílias em busca de melhores - pelo menos na cabeça deles - condições de vida na cidade de São Paulo. Quase sempre, o que encontravam era preconceito, xenofobia e, consequentemente, a miséria das favelas surgidas já nos anos 50, haja vista os relatos de Carolina Maria de Jesus na obra Quarto de despejo – diário de uma favelada (1960), ela mesma uma migrante.

A necessidade do recorte temporal exigido pela referida pesquisa se inicia no ano de 1973, terminando em 2001. As migrações são marcas indeléveis na pele do Brasil, que em determinados momentos da história chegaram a diminuir, mas nunca acabaram. Assim, nossos “severinos” e “macabéas” continuam, como diz o poeta, descendo do Norte pra cidade grande, com seus pés cansados e feridos. Logo, a temática abordada pelo estudioso se mostra pra lá de atual, tendo em vista que os processos migratórios não se constituem como fenômenos restritos a este ou àquele país, mas universal, com “estranhos” batendo desesperadamente às portas do mundo, sejam saídos de Quixadá, tangidos e açoitados feito “bichos” nas fronteiras dos Estados Unidos ou morrendo aos milhares nas travessias do Mediterrâneo, por exemplo.

Difícil mesmo é discutir qualquer outro assunto, seja a questão climática, o racismo, a decolonialidade, a democracia, a interculturalidade, os direitos humanos, as questões de gênero ou o avanço do neofascismo, se não se colocarem os processos migratórios no centro dos debates mundiais. Neste sentido, o texto do prof. Vilarin Barbosa Barros deita olhos sobre um assunto aparentemente local, mas que é, na verdade, universal; uma vez que dialoga com ideias observáveis em Os emigrantes (2002), de W.G. Sebald, Estranhos à nossa porta (2017), de Zygmunt Bauman e, entre outros, A imigração: ou os paradoxos da alteridade (1991), de Abdelmalek Sayad.

Destarte, são cada vez mais urgentes e necessárias discussões como as que são propostas pelo referido pesquisador, uma vez que no âmbito da cultura contemporânea é para o humano a quem todos os olhares, palavras e ações políticas, sem exceção, devem estar voltados. E se assim não o for, nada mais fará sentido, pois a vida estará em outro lugar.