Rachel de Queiroz |
Xosé Neira Vilas |
O advento da literatura
comparada contribuiu em muito para a aproximação das diversas formas de arte. Se
no inicio a literatura comparada era, como afirma Tânia Carvalhal (1992), uma
forma de investigação literária que confronta duas ou mais literaturas, com o
passar do tempo percebeu-se que o bojo dos “estudos literários comparados” era
muito mais amplo, tendo-se não apenas a literatura como objeto de análise, mas a
literatura e suas relações com outras formas de arte.
Cleudene Aragão |
No Brasil, no entanto, o que tem sido mais
recorrente é a análise comparativa entre duas (ou mais) obras literarias, observando o que
essas obras trazem em comum entre si ou ainda naquilo que as distancia. Assim,
nos chama especial atenção o trabalho escrito pela professora Cleudene de
Oliveira Aragão, quando coloca em análise os trabalhos da escritora cearense
Rachel de Queiroz (1910 - 2003), lado a lado com as obras do ficcionista galego
Xosé Neira Vilas.
Vencedor do Prêmio
Osmundo Pontes de Literatura, de 2011, o ensaio Rachel de Queiroz e Xosé Neira Vilas: Vidas feitas de terras e palavras
(2012) é um bom exemplo daquilo que pode a literatura comparada.
Ao discorrer sobre o trabalho de Aragão, Angela Gutiérrez afirma:
Ao discorrer sobre o trabalho de Aragão, Angela Gutiérrez afirma:
Em seu ensaio, construído dentro
do melhor uso da teoria e dos instrumentos dos estudos de literatura comparada,
a pesquisadora cearense analisa, a partir do delineamento das duas entidades
geográficas e culturais – Hispania e Terra Brasilis -, as semelhanças
possíveis e as diferenças complementares entre as nações literárias dos dois
ficcionistas, representadas pela imagem do quebra-cabeça
Brasil, formado por suas regiões distintas, entre elas, o Nordeste de
Rachel; e do mosaico Espanha, composto
por diferentes comunidades lingüísticas desse país, entre elas, a Galícia de
Xosé. (GUTIÉRREZ apud ARAGÃO, 2012: 12)
A respeito do seu trabalho, Aragão afirma:
Rachel de Queiroz e Xosé Neira
Vilas, no conjunto de suas obras, brindam-nos com inúmeras possibilidades de
análise. Um estudo comparativo de sua produção literária revela grandes pontos
de encontro entre as culturas de que são incontestáveis transmissores,
permitindo-nos, através dessa comparação, conhecer melhor tanto o Ceará, a
Galícia, quanto outras terras (...). (ARAGÃO, 2012:23)
O trabalho de Aragão (2012),
por meio dos fabuladores, sejam eles sedentários, migrantes ou artífices, objetiva
uma aproximação das obras O Quinze (1930) e Dôra
Doralina (1975), de Rachel de Queiroz, com Memorias Dun Neno Labrego (1961) e Querido Tomás (1980), de Xosé Neira Vilas. E assim sendo, de forma
magistral, a ensaísta transforma o Atlântico em uma ponte a unir o Ceará e a
Galícia por meio de uma literatura que é toda ela feita de terras e palavras.
O livro se organiza, então,
em três grandes capítulos. O primeiro denomina-se de “testemunhas de seu tempo
e de seu povo: a cearense Rachel de Queiroz e o Galego Xosé Neira Vilas” (p. 25
– 97), enquanto o segundo chama-se “Vidas feitas de terra e palavra: O Quinze e Memorias Dun Neno Labrego (p.99 – 153). O capitulo terceiro, por
sua vez, denomina-se de “Vidas feitas de terra, mar e palavra (p. 155 – 199). O
trabalho ainda é enriquecido com imagens dos autores e reprodução das capas das
obras analisadas (p. 237 – 241).
Para aqueles
interessados nos estudos de literatura comparada ou nos trabalhos de um dos
dois autores (de lá ou de cá), o atlântico não constitui mais obstáculo para a
apreensão das suas literaturas, uma vez que o ensaio de Cleudene Aragão
possibilitou essa desejada aproximação. No mais, é mergulhar no texto e
comemorar a eliminação de mais uma fronteira.
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