segunda-feira, 19 de junho de 2017

ELIZABETH BISHOP: A MIRACLE FOR BREAKFAST

Elizabeth Bishop (1911 – 1979) é daquelas poetisas que sabiam muito bem como burilar um poema, não importando quanto tempo fosse necessário para fazê-lo. Prova disso é que sua obra poética não passa de uma centena de poemas. Sua preocupação era com a qualidade somente. Enquanto trabalhava em um ou outro poema, Bishop também se dedicava a escrever outros textos, tendo deixado, por exemplo, uma imensa coleção de cartas, como aquelas que trocou com seu grande amigo Robert Lowell (1917 – 1977), cuja publicação pela Farrar, Straus and Giroux, de Nova York, recebeu o nome de Words in Air (2008), bem como o volume denominado Prose (2011), publicado pela mesma editora.

No Brasil, as traduções da obra de Bishop estão quase sempre a cargo de Paulo Henriques Brito, que tem desenvolvido um excelente trabalho nesse sentido. Entre muitas, merecem destaque as traduções que o referido tradutor fez da maioria das cartas da poeta, dando-lhe o nome de Uma Arte: as cartas de Elizabeth Bishop, publicado pela Companhia das Letras, no ano de 1995; assim como os poemas que constituem o volume intitulado O Iceberg Imaginário, de 2001 e Poemas Escolhidos de Elizabeth Bishop, 2012, também pela Companhia. Não poderíamos deixar de mencionar aqui a tradução que Horácio Costa fez de alguns poemas da escritora norte-americana. A tradução de Costa também foi publicada pela Companhia das Letras, no ano de 1990. As estratégias de tradução empregadas por Britto e Costa são bastante diferentes, cabendo ao leitor se posicionar quanto aos resultados, coisa que não faremos aqui.

Além da sua obra, a vida pessoal de Elizabeth Bishop também tem atraído a atenção de muitos autores, com destaque para o período em que a autora morou no Brasil com sua companheira Lota de Macedo Soares (1910 – 1967), assunto que tem rendido muitos livros , filmes e documentários. Entre muitos trabalhos sobre a vida pessoal de Bishop, destacamos o já referencial Flores raras e banalíssimas: a história de Lota de Macedo Soares e Elizabeth Bishop (1995), de Carmem L. Oliveira, publicado pela editora Rocco. Registramos ainda Invenções de si em histórias de amor: Lota de Macedo Soares e Elizabeth Bishop (2008), de Nádia Nogueira. Os interessados na obra de Elizabeth Bishop não podem deixar de ler dois outros trabalhos extremamente relevantes. São eles: Recortes na paisagem: uma leitura de Brazil e outros textos de Elizabeth Bishop (2008), de Armando Olivetti Ferreira e Feijão-preto e diamantes: o Brasil na obra de Elizabeth Bishop (2015), de Regina Przybycien.

Megan Marshall
Acaba de chegar ao mercado o livro Elizabeth Bishop: A Miracle for Breakfast (2017), da ganhadora do Pulitzer, Megan Marshall, ainda sem previsão de tradução para o português brasileiro. A referida biografia foi publicada pela Houghton Mifflin Harcourt, de Nova York. “A Miracle for Breakfast”, traduzido por Britto como “Um milagre matinal”, em O Iceberg Imaginário (2001:35 – 37), é considerado pela crítica especializada como um dos seus melhores poemas. Em “Um milagre matinal” lê-se: “Ás seis, estávamos à espera do café/à espera do café e da caridosa migalha/que seriam servidos de uma certa varanda – como por reis de outrora, ou por milagre./Ainda estava escuro./Um dos pés do sol se apoiava numa longa ondulação do rio”. Cabe ao leitor deitar olhos ao poema e tentar descobrir de que matéria é construído, no que tange ao seu conteúdo. Seja como for, Marshall o considerou de grande relevância a ponto de trazê-lo para o título do seu trabalho.


O livro de Megan Marshall é constituído de seis capítulos, batizados e organizados da seguinte forma: Balcony (p. 7-44), Crumb (p. 45- 97), Coffee (p. 98 – 141), River (p. 142 – 194), Miracle (p. 195 – 238) e Sun (239 – 297). As demais páginas do trabalho são compostas por ilustrações, cartas, agradecimentos, notas, índices etc.; constituindo ao todo 366 páginas. A qualidade da escrita de Marshall permite que a leitura flua de maneira simples e prazerosa. 

Elizabeth Bishop: A Miracle for Breakfast é, certamente, uma importante contribuição não apenas para os leitores e pesquisadores dedicados à obra de Elizabeth Bishop, mas para todos aqueles que ainda conseguem reconhecer a beleza e a excelência de um grande texto.