Somente hoje consegui
tempo para retomar a leitura do livro Luiz
Oswaldo: artesão de palavras (2021), de Maizé Trindade. Trata-se da
biografia de um dos maiores educadores do país, o homem responsável por levar a
educação de nível superior, especificamente cursos de formação de professores,
ao sertão central cearense. Todo o livro é conectado pela lexia “palavra”, e é
dividido em sete partes, a saber, I. Primeiras palavras, II. A palavra
desafiadora, III. A palavra evangelizadora, IV. A palavra criadora, V. A
palavra cuidadora, VI. A palavra libertadora e VII. Outras palavras.
Retomar a leitura da
biografia de Luiz Oswaldo, em um momento tão importante na história do Brasil,
é ler o que já tivemos a grata satisfação de ouvir de sua própria boca. É
relembrar, entre muitas coisas, sua amizade com Lula da Silva e com Paulo
Freire. É reconhecer sua dedicação infinita em prol da educação, como forma de
acreditar no melhor do ser humano, na necessidade de se formarem professores e
professoras comprometidas e comprometidos não apenas com o estar-no-mundo, mas como agir para transformar nosso mundo em um
lugar inclusivo, acolhedor e igualitário. Lutar com palavras, nos diz Drummond,
é a luta mais vã. Entanto, continua o poeta, lutamos mal rompe a manhã. E assim
o são Oswaldo, Lula e Freire, que em meio a palavras fortes como javalis, são
muitas vezes tidos como loucos, e acredito até mesmo que o sejam, pois possuem
o poder de encantá-las. Lula, por exemplo, até aos “ratos” encanta.
Há, contudo, aqueles de
quem as palavras fogem, uma vez que lhes foi permitido apenas o balbucio e a
vociferação da sua ignomínia regurgitada quase sempre em ataques ao próximo, ao
diferente. E foi assim que no dia 16 de setembro do ano corrente, durante um
evento em Londrina, no Paraná, o senhor que ocupa a cadeira da Presidência da
República disse: “... Somos um país que não tem problemas outros. O único
problema que nós temos aqui é o PT, composto de pessoas que vieram dos rincões,
dos grotões, daqueles locais onde nada poderia sair dali a não ser esse tipo de
gente”. O discurso do candidato em questão certamente encheu de orgulho Joseph
Goebbels. Além disso, serviu para confirmar a impressão de David Duke, ex-líder
da Ku Klux Klan, quando ao elogiar o referido mandatário, disse: “ele soa como
nós”.
Luiz Oswaldo nasceu em
Natal, Paulo Freire em Recife e Lula da Silva em Garanhuns, no agreste de
Pernambuco. Pode-se dizer, então, que são todos eles oriundos dos rincões e
grotões do Brasil, de onde sai esse maravilhoso tipo de gente. O compromisso
desses três homens na luta por um Brasil democrático e livre possibilitou que
se encontrassem sempre, e com fé renovada na esperança por dias melhores.
Quanto a isso, o livro de Maizé Trindade é rico em imagens. Entre tantas,
tem-se Oswaldo e Lula em um carro (p.287), quando da visita de Lula a Quixadá,
Ceará, durante a campanha presidencial de 1989. No mesmo dia, após apresentação
de Luiz Oswaldo, Lula discursou em Quixadá para um público estimado em 10 mil
pessoas (p.287). Há também duas imagens que mostram os amigos Luiz Oswaldo e
Lula da Silva juntos. A primeira registra a visita que o Presidente Lula fez ao
Banco do Brasil, em Brasília, em 2006, quando Luiz Oswaldo ocupava a
Vice-Presidência do referido Banco. E a segunda é quando do aniversário do PT
em Brasília, no mesmo ano (p.288).
Sobre os encontros entre
Luiz e Paulo (é assim que Oswaldo sempre se refere ao amigo Freire), a obra
disponibiliza dois registros. No primeiro, Luiz Oswaldo e Paulo Freire dividem
uma mesa com Cristiano Goes e Nita Freire, durante o Curso de Formação de
Educadores do BB-Educar, realizado no centro de treinamento do DESED em
Brasília, em 1994. Na outra imagem, no Encontro de educadores do BB-Educar, em
Fortaleza, Ceará, em 1996, tem-se Luiz Oswaldo, Maria Ruth Barreto e Paulo
Freire (p.289). A apresentação da obra ficou a cargo da educadora Nita Freire.
O posfácio, por sua vez, foi escrito pela deputada Erika Kokay. Há uma orelha
assinada por Sérgio Riede e, na contracapa, um texto de Frei Betto.
O livro é sobre a vida do
educador Luiz Oswaldo Sant’Iago Moreira de Souza, mas é também sobre Luiz Inácio Lula da
Silva, Paulo Reglus Neves Freire e o Brasil dos rincões, grotões e metrópoles.
Assim, no momento em que o Brasil se vê na urgência de decidir entre a civilização
e a barbárie, a leitura do livro de Maizé Trindade é indispensável, uma vez que
a pena da autora, ao descortinar a vida e as lutas de Luiz Oswaldo, mantém
acesa a esperança que reside em todos nós, pois “quando a gente perde a
esperança, perde tudo. A esperança é o princípio da vida. A esperança liberta.
É aquilo que ainda não é, mas que pode vir a ser”. Na correria da vida, sigamos
brigando por ideias, pois “o destino da palavra é criar a liberdade”.