O segundo disco, trabalho solo de Martins, chama-se Interessante e obsceno (2023). E a demora em ouvir os dois trabalhos, praticamente três anos após terem sido lançados, é que tenho a mania de guardar livros, filmes e discos para ler, ver e ouvir quando já não se falam muito sobre eles, quando já surgiram outras coisas para ocupar lugar na mídia. Tenho agido assim já faz bastante tempo e não me arrependo, pois tenho aprendido que esse hiato na apreciação de um trabalho de arte entre o período que é lançado até o momento que o escuto, no caso dos discos, me permite uma “degustação” silenciosa, distante de qualquer forma de pressão ou dos riscos de um julgamento apressado.
O
disco Interessante e obsceno, produzido por Rafael Ramos, é composto de
12 canções de autoria de Martins e também em parceria com outros compositores. Assim,
tem-se: “Tua voz”, “Não duvido”, “Tá tudo bem”, “Deixe”, “Interessante e obsceno”,
“Eu e você sempre”, “Tem problema não”, “Deixa rolar”, “Arrepia”, “Nu”, “Céu da
boca” e “Voltar pra si”. As composições de Martins se equilibram entre a leveza
e o peso daquilo que melhor caracteriza a feitura de uma grande canção,
abrangendo temáticas que vão do banal ao complexo, descortinadas na suavidade
da voz singular do artista. A riqueza poética da canção de Martins não nos
causa nenhuma surpresa, pois quem vem de Pernambuco, como dito em “Tua voz”,
traz um rio dentro do peito.
A
canção que dá título ao álbum já havia sido apresentada um ano antes no disco Almério e Martins – Ao vivo no parque, o qual
mencionamos no primeiro parágrafo deste texto. De todas as canções do disco, não
temo em dizer que “Interessante e obsceno” é, sem sombra de dúvidas, uma das
mais belas já surgida na Música Popular Brasileira. Não consigo parar de ouvir.
E se assim o é, não importa se foi ouvida quando do seu lançamento ou se será
ouvida nos próximos 50 anos, atemporal que é. Os vídeos disponíveis na Internet
dos shows realizados pela dupla constituem uma beleza à parte. Ao vê-los, temos
a chance de conferir o entrosamento entre os dois artistas, a conexão com os
demais músicos da banda, o cenário, a iluminação e a participação do público.
“Interessante
e obsceno” é potente e certeira, quando nos diz que não devemos esperar do amor
aquilo que nos faz pequenos, pois quando o amor já não existe e o amado/amada
te virou as costas, deu de ombros e partiu, é importante, como diz a canção,
não se sabotar nem trocar olhares por acenos. Que os desejos jamais se acomodem!
Ao contrário, que sejam interessantes e obscenos. E se nada mais houver a ser
dito, pois não há a quem ser dito, é chegada a hora de seguir em frente e soltar
aquilo que não te abraça mais.
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