quinta-feira, 10 de abril de 2014

POR QUE LER FRANCISCO CARVALHO

Vivemos um tempo preenchido pelo inútil, pelo descartável. A ignorância ganha os campos e, ser imbecil, parece ser normal. Entre numa livraria e dê uma olhada nos "mais vendidos", excetuando-se alguns, é lixo puro. Enquanto isso, Guy Debord (1931-1994) se remexe na tumba e Mario Vargas Llosa joga mais lenha na fogueira com o seu A civilização do espetáculo - uma radiografia do nosso tempo e da nossa cultura(2013).


Embora em cada esquina nasça um "poeta", poucos conseguem, para o bem da humanidade, sobreviver. Não sobrevivem por não terem absolutamente nada a dizer, por não namorarem a própria língua, deixar-lhes lamber o íntimo, o ser. Poetas que não dormem com a cultura, que não sabem tocar a vida como um homem deve saber acariciar o corpo de uma mulher não merecem a leitura de um verso. Afrontam Dante, Shakespeare, Virgílio, Drummond...

Outros poetas não estão na mídia, não frequentam festas literárias, não vão aos vazios "talk shows". Ao contrário, mantêm-se quase reclusos e, na "solidão" de suas bibliotecas redescobrem a máquina do mundo, a arte de cantar a vida, de elevar a alma. Poetas assim contam-se nos dedos das mãos. Francisco Carvalho era  um desses mágicos da escrita, um desses desbravadores das dores e das vidas do ser humano. Se tivesse produzido apenas A Concha e o Rumor (2000) ou seus Girassóis de Barro (1997)já seria consagrado como um dos maiores poetas de língua portuguesa. Não contente com isso, o velho Carvalho, como o vinho, melhorava a cada novo livro. O que dizer dos seus Centauros Urbanos (2003)? E seus Corvos de Alumínio (2007)?


Ler Francisco Carvalho é ler o que de melhor tem sido produzido na poesia desse país. É estar em contato com a sabedoria de um poeta que ao longo de toda sua obra poética provoca o pensar, a reflexão, o amor pela vida, pela cultura, pela erudição. Ler Francisco Carvalho é ler um mundo espreitado pela vida. A minha, a sua, a nossa mesma sempre diferente, vida.


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