O Planeta Terra, devido em grande parte à
ganância do ser humano, agoniza a olhos vistos. Pouco tem sido feito para
evitarmos que o nosso habitat entre em colapso. Caso isso ocorra, a humanidade
perecerá; mas séculos e séculos depois o planeta se recomporá, voltando a ser o
que fora na sua origem. Embora muito esteja sendo dito, quase nada tem sido
efetivamente feito para combatermos a proximidade do fim. E assim sendo, o
homem continua cavando em tudo quanto é lugar, em busca de petróleo para
enchermos nossos tanques e pormos nossas usinas em funcionamento. Nada tem
escapado à ambição cega desse homem que, mesmo contemporâneo, age como se um
primata fosse.
Alguns autores apresentam constantes
contribuições, em tentativas de levar o ser humano a compreender suas
relações como seu meio ambiente. Esses objetivos nem sempre são
alcançados, uma
vez que geralmente nem temos tido tempo para percebermos o quão longe estamos
dos nossos semelhantes. E aqui me vem uma máxima de Saramago, quando diz que
chegamos muito mais rapidamente a Marte do que ao nosso próprio semelhante. Na
linha daqueles que demostram preocupações com o mundo tal qual o conhecemos,
atentamos para os estudos propostos pelo professor Yi-Fu Tuan, "Prêmio Nobel da
Geografia", de 2012 (trata-se, na verdade, do Prêmio Vautrin Lud). A obra do professor Tuan nos tem obrigado a perceber o
pensamento geográfico humanista na medida em que proporciona estudos mais
amplos e conscientizadores acerca da percepção do ambiente.
Yi-Fu Tuan |
Embora seja um homem da Geografia, seus
trabalhos não se limitam a essa ou aquela questão em específico. Sua obra
aponta para um pensar amplo e irrestrito, aproximando a geografia de inúmeras
outras áreas do conhecimento. Entres seus vários trabalhos, o Professor Emérito
da Universidade de Winsconsin-Madison (EUA), publicou Espaço e lugar: a
perspectiva da experiência (1983) e Paisagens do medo (2005).
O primeiro foi publicado, no Brasil, pela editora Difel, enquanto o segundo foi
publicado pela Editora da UNESP. Antes desses, no entanto, o professor Tuan
publicou Topofilia: um estudo da percepção, atitudes e valores do meio
ambiente. A obra em questão foi publicada pela primeira vez em 1974. No
Brasil, pela EDUEL, no ano de 2012. Excetuando-se alguns problemas, mais de
impressão do que de tradução (a tradução é de Lívia de Oliveira), trata-se de
uma publicação das mais relevantes sobre a temática da relação homem/meio.
No diz respeito à estrutura da obra, além
dos agradecimentos e do prefácio, o livro traz uma divisão em capítulos. Quinze
ao todo. O último denomina-se “Resumo e conclusões” e não traz as referências
bibliográficas. Ao longo dos catorze
capítulos principais, o autor traça um amplo painel das relações estabelecidas
entre o ser humano e o meio ambiente, relações essas quase sempre violadas pelo
homem. Consideramos amplo o painel proposto
pelo professor Tuan, uma vez que o
referido autor abarca desde a percepção que o homem tem dos próprios sentidos,
passando pelas questões psicológicas, bem como acerca de considerações sobre o
etnocentrismo, a simetria do espaço, subúrbios, cidades, meio ambiente e cosmo.
Na introdução ao seu trabalho, Yi-Fu Tuan discorre sobre como estão organizados
os capítulos, descrevendo e explicitando o que trata cada um deles. Na ocasião,
o professor faz uma definição daquilo que deva ser compreendido como Topofilia.
Diz: “Topofilia é o elo afetivo entre a pessoa e o lugar ou ambiente físico.
Difuso como conceito, vivido e concreto como experiência pessoal...”.
Em breve apresentação, na orelha esquerda
do livro, Lúcia Helena Batista Gratão (2012), da Universidade Estadual de
Londrina, afirma:
Do amor ao sentimento de Topofilia. Esse é o princípio fundante da obra que o
geógrafo Yi-Fu Tuan compôs para explorar as ligações afetivas dos seres humanos
com o meio ambiente. Que belo neologismo de uma palavra para compreender os
laços que se (entre)laçam entre meio ambiente e visão do mundo! Nos
(entre)meios e (entre)laços, os sentimentos topofílicos se revelam de maneira
profundamente diferente em intensidade, sutileza e modo de expressão. Do
efêmero prazer que se tem de uma vista, até a sensação de beleza, igualmente
fugaz, mas muito mais intensa. Das sensações de deleite ao sentir o ar, a água,
a terra no contato físico. (GRATÃO, 2012)
E continua ela:
Mais permanentes e mais difíceis de expressar, são os sentimentos
que temos para com um lugar, por ser o lar, o locus de reminiscências e o meio de se ganhar a vida. Em qualquer
lugar onde haja seres humanos, haverá o lar de alguém – como todo o significado
afetivo da palavra. A Topofilia é um sentimento de que a Terra é um relicário
de lembranças e (res)guarda a esperança. Sentimento expresso de que a Terra é
uma obra de apreciação estética e, ao mesmo tempo, substractum da vida, parte do ser, lugar da vida. Tudo isso que
contém a palavra Topofilia por toda a
beleza de ver e de estar no mundo. Terra nosso lar. (GRATÃO, 2012)
Da primeira publicação de Topofilia (1974) ao momento em
que escrevo essa resenha (2014), lá se vão quarenta anos; o que nos faz
questionar a razão pela qual as palavras do professor Tuan continuam a
reverberar em nossos sentidos. Uma resposta possível talvez esteja calcada na
força que essas palavras trazem em si. São palavras que, ao mesmo tempo em que
nos escancaram a beleza do planeta em que vivemos, também nos alertam para a
responsabilidade que temos sobre esse mesmo planeta enquanto morada de todos.
No entanto, serão as urgentes mudanças na relação homem/Terra que decidirão como será o futuro que nos aguarda.
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