Princesa Teresa da Baviera |
O Brasil ainda é um grande
desconhecido, para seu próprio povo. Por razões, as mais variadas, inúmeros
brasileiros não conhecem seu próprio país, e não demonstram nenhum interesse em
conhecê-lo. E nesse misto de ignorância e alienação, muito da cultura nacional
vai escorrendo pelas coxias da memória (ou seria da desmemória?) em direção ao
fosso do esquecimento. Contudo, aquilo que para alguns é pobre, desnecessário e
desinteressante; para outros é culturalmente rico e merecedor de atenções.
Ao longo da história do
Brasil, muitos foram os estrangeiros que passaram por essas terras, registrando
seus mais íntimos detalhes; fossem eles ligados aos hábitos e costumes dos
nativos ou à fauna, flora e riquezas naturais encontradas no paraíso perdido
abaixo da linha do Equador. Dessa forma, tem-se os registros dos cronistas e
viajantes que por aqui estiveram, no período Colonial, bem como daqueles que,
já no período Imperial, também se renderam à cultura, curiosidades e exotismos
do país que surgia. Dentre tantos, nos chama a atenção os olhos de Therese von
Bayern (1850 – 1925), a princesa da Baviera.
Segundo o texto de A.A.
Bispo, hospedado no site http://www.academia.brasil-europa.eu,
Therese von Bayern foi uma das mais relevantes estudiosas da natureza e da
etnografia do Brasil. Infelizmente, continua o texto, ainda é pouco considerada
nos estudos brasileiros. Aos poucos, no entanto, tem adquirido certo
reconhecimento em meio aos estudos interculturais e científicos. Essa princesa,
conforme A.A. Bispo, é talvez a de maior erudição entre aristocratas alemãs do
século XIX, sendo considerada hoje por alguns estudiosos como uma personalidade
feminina à altura de um Alexander von
Humboldt.
Ainda, conforme A.A. Bispo,
a princesa da Baviera nasceu Therese Charlotte Marianne Auguste, no ano de
1850, tendo sido batizada no dia 14 de novembro do mesmo ano. Era neta do rei
Luis 1º da Baviera, única filha entre os quatro filhos de Luitpold (Leopoldo),
daquele que seria príncipe-regente da Baviera, e de Auguste Ferdinande, duquesa
da Áustria, princesa da Toscana. O seu irmão foi o rei Luis III, da Baviera.
Therese von Bayern recebeu uma formação profundamente católica, sendo educada
sobretudo pela sua mãe, e, posteriormente, pela mãe da rainha da Baviera. Desde
cedo mostrou grande facilidade para aprender línguas, paixão pela natureza,
pela etnografia de países não europeus. Adquiriu instrução, sobretudo
autodidaticamente, através de leituras. Chegou a dominar vários idiomas, tendo
conhecimento de 12 línguas, entre elas o russo e o grego moderno. De personalidade altiva, movida por um
entusiasmo íntimo pelo conhecimento, pela revelação de mundos novos, a sua vida
foi dedicada desde cedo a viagens e a estudos. Percorreu toda a Europa, da
Escandinávia ao Mediterrâneo, das ilhas britânicas aos territórios balcânicos e
ao oriente próximo. Tinha 25 anos quando viajou pela primeira vez ao Norte da
África, à Tunísia e Algéria, através da Itália e da Ilha de Malta. No retorno,
pela Espanha, Portugal e França, teve contato com o mundo ibérico e
latino-ocidental. Dessa viagem, originou-se o seu primeiro relato de viagens,
publicado em 1880.
A América do Sul, continua
A.A. Bispo, constituiu desde cedo o principal centro de interesse da princesa.
Seguia, aqui, a tradição que, desde Spix e Martius, unia
cientifico-culturalmente a Baviera ao continente americano. A princesa realizou
três expedições à América do Sul, realizando observações em 23 diferentes
grupos indígenas até então pouco ou não conhecidos dos cientistas europeus.
Percorreu os pampas argentinos, atravessou os Andes e o deserto do Atacama.
Visitou regiões de difícil acesso no Amazonas e no Leste do Brasil. Os
materiais que trazia das viagens expunha num museu particular. Após a sua
morte, em 1925, a coleção passou a fazer parte da Coleção Estatal
Científico-Natural da Baviera.
No ano de 1888, a princesa
da Baviera visitou o Brasil, no período de 26 de junho a 10 de outubro. Na
ocasião, Teresa da Baviera esteve no Pará, Amazonas, Maranhão, Ceará, Paraíba,
Pernambuco, Alagoas, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Espírito
Santo. Assim como os outros viajantes que estiveram no Brasil, a princesa da
Baviera registrou tudo que pode sobre a fauna, flora, povo, hábitos e costumes.
Como resultado, publicou, no ano de 1897, em Berlim, o livro intitulado Meine Reise in den Brasilianischen Tropen, o
qual é dedicado a Dom Pedro II, Imperador do Brasil. O único exemplar existente no Brasil encontra-se na biblioteca da
USP.
Embora muito ainda tenha a ser dito (e
traduzido para o português) sobre a obra etnográfica publicada pela princesa da
Baviera, algumas iniciativas tem se mostrado de muito bom tom. Em 2013, o
Arquivo Público do Estado do Espírito Santo – APEES lançou uma edição com a
tradução dos três capítulos nos quais a princesa da Baviera discorre sobre o
Espírito Santo. A edição traz ainda, o diário do Barão Maximiliano von Speidel,
um dos acompanhantes da princesa Teresa da Baviera por terras brasileiras. A
edição lançada pelo APEES é parte integrante da linha editorial da Coleção
Canaã, tendo sido traduzida por Sara Baldus, e organizada pelo professor Julio
Bentivoglio, da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).
No ano de 2014, a editora
Phoenix Cultural, por sua vez, publicou, sob a organização de Maria Clara
Medeiros Santos Neves, e com tradução de Ivan Seibel, a obra Viagem pelos trópicos brasileiros: província
do Espírito Santo. A referida obra detém-se “apenas” nos três capítulos que
tratam do Espírito Santo, uma vez que a intenção da organizadora é contribuir
com os estudos acerca da cultura e da história capixabas. Assim sendo, os
capítulos abordados são Capítulo XVI, denominado “Espírito Santo”; capítulo
XVII “Rio Doce”, e capítulo XVIII, denominado “Costa do Espírito Santo”.
Ainda no ano de 2014, a
grande contribuição aos estudos acerca da obra da princesa Teresa da Baviera, é
dada pelo pesquisador e tradutor André Frota de Oliveira, quando traz a lume a
tradução completa para o português de Meine
Reise in den Brasilianischen Tropen, de 1897. Traduzida por ele como Minha viagem nos trópicos brasileiros. A
tradução do professor André Frota de Oliveira foi revisada por Christian
Heimpel, o qual também ficou responsável pelo estudo introdutório para o leitor
brasileiro. Além do texto cuidadosamente traduzido, a edição de André Frota de
Oliveira traz dois mapas, quatro pranchas, 18 ilustrações de página inteira e
60 estampas de texto; reproduzindo também fotografias do grupo viajante, bem
como desenhos da autora.
A obra traz o prefácio da
autora (p. 41), Apêndice (p. 481), bibliografia utilizada (p. 487), índice
onomástico e de matérias (p. 506), explicação das pranchas etnográficas (p.
560), notas da autora (p. 566) e notas do tradutor (p. 636).
Tradução de André Frota |
O trabalho que André Frota
de Oliveira coloca à disposição dos pesquisadores, constitui-se como resultado
de uma empreitada de fôlego, dedicação e paciência. A contribuição desse
trabalho para as pesquisas acerca do Brasil é de extremo valor, tornando-se desde
já referência para todo e qualquer estudo que objetive um aprofundamento acerca
da história, antropologia e cultura nacionais.
Sobre André Frota, o tradutor:
http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/caderno-3/natureza-de-pesquisador-1.57803