Houve um tempo em que
muitas pessoas acreditavam que os conhecimentos eram estanques e que cada um
deles deveria ocupar um local específico, sem jamais se misturar com os outros.
Os tempos passaram e muito desse pensamento equivocado já se evanesceu faz
tempo. É claro que, entre perdidos e achados, ainda há uns gatos pingados
acreditando que a vida só segue em uma única direção.
Sobre os ombros da contemporaneidade
incide a necessidade de uma compreensão multidisciplinar do conhecimento. Sobre
as fronteiras do conhecimento, Gaston Bachelard levanta os seguintes
questionamentos:
O conceito de fronteira do
conhecimento científico tem sentido absoluto? Seria possível traçar as
fronteiras do pensamento científico? Estamos dentro de um domínio objetivamente
fechado? Estamos sujeitos a uma razão imutável? É o espírito uma espécie de
instrumento orgânico, invariável como a mão, limitado como a visão? É ele
obrigado a uma evolução regular ligada a uma evolução orgânica? Aí estão
perguntas, múltiplas e conexas, que questionam a filosofia e que conferem um
interesse primordial ao estudo do progresso do pensamento científico.
(BACHELARD, 2008:69)
Certamente que o autor
de A poética do espaço (2005) já
provocava com esses questionamentos reflexões acerca da necessidade do humano
de encaixotar saberes dentro de domínios teoricamente fechados, o que nos
afastaria da sabedoria, uma vez que, conforme afirma Leonardo Boff, sabedoria é
poder saborear todos os saberes, pois todos eles revelam algo do ser.
O trabalho está
organizado em duas partes. A primeira parte traz sete artigos, enquanto a
segunda apresenta seis. São artigos acadêmicos que tratam dos mais variados
assuntos, em uma tentativa de abarcar as diversas áreas de pesquisas que
coexistem no âmbito da Universidade e dizem respeito aos campos da educação,
história, cultura e tecnologias; bem como das suas interfaces. Dessa forma, na
mesma obra, pode-se entrar em contato com a poesia de Linhares Filho (p. 67 –
84), conhecer sobre as relações entre parteiras e parturientes no sertão do
Ceará (p. 129 – 144) ou aprender sobre queijo coalho artesanal (p.209 – 222) e
ainda a respeito dos supercondutores (p. 223 – 233).
O livro em questão é
parte de um projeto que pretende, a cada ano, publicar um volume nos mesmos
moldes, tentando unir temas de interesse não apenas da Academia, mas acessíveis
a um público não especializado. Assim sendo, a linguagem utilizada na abordagem
dessas questões tenta se mostrar o mais próxima possível do leitor comum, sem,
no entanto, se afastar do caráter acadêmico-científico. Sobre o caráter
multidisciplinar da obra, a professora Fátima Maria Leitão Araújo, afirma:
O livro Sociedade, ciência e sertão: reflexões sobre educação, história,
cultura e tecnologias enfrenta o desafio de articular uma infinda
diversidade de temas que, pela especificidade inerente a cada um, pode suscitar
estranhamento por parte do leitor. Por outro lado, podemos encontrar elos que
os unem no aparente labirinto da incoerência: tempo e cultura, conceitos que
explícita ou implicitamente se fazem presentes nos estudos aqui abordados,
pois, independente de estarem ou não ligados diretamente ao mister
historiográfico ou sociológico, todos trazem em suas análises a delimitação
temporal e os meandros culturais que se materializam na explicitação dos
objetos de estudo, histórica e culturalmente situados em um dado espaço e em um
determinado tempo. (ARAÚJO, 2014:10)
Dessa forma, o caráter
multidisciplinar presente nos artigos do trabalho em questão aponta para uma
concepção de educação e cultura que se pauta pelo mais amplo, pelo mais geral
e, consequentemente, por uma visão mais democrática da apreensão do
conhecimento.
Serviço:
Editora
da Universidade Estadual do Ceará – EdUECE
Av.
Dr. Silas Munguba, 1700 – Campus do Itaperi – Reitoria – Fortaleza – CE
Link: http://www.uece.br E-mail de contato: eduece@uece.br
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