Está cada vez mais
comum a publicação de antologias, sejam de contos, poemas ou crônicas. Tal tendência
evidencia uma necessidade de publicação, que se pensou, equivocadamente, que
desapareceria com o advento das plataformas digitais de leituras. Longe de se
confirmar as previsões apocalípticas acerca do desaparecimento do livro, nunca
se publicou tanto no mundo inteiro.
Embora os custos para
se publicar um livro ainda estejam pela hora da morte, isso não tem sido
obstáculo para que os novos (os velhos também) autores possam divulgar seus
trabalhos literários. É claro que no meio de muito do que se publica, tem muita
coisa de péssima qualidade, resultante da falta de noção daqueles que acham que
meia dúzia de palavras em uma folha de papel constitui-se num poema, num conto
ou numa crônica. É claro que não! O buraco é bem mais embaixo, caro autor.
Contudo, considerando
que a defesa e a manutenção da liberdade implicam também no direito que cada
pessoa tem de se expressar, não há razão para discriminar aqueles que publicam
seus textos apressadamente, sem a preocupação de torná-los mais maduros. Cabe,
porém, à crítica, se posicionar acerca daquilo que se publica e se faz
circular. Refiro-me, aqui, não à crítica ressentida e tacanha que pulula nas
limitadas páginas dos nossos moribundos jornais, mas àquela crítica que costuma
deitar olhos sobre a literatura que se produz no contexto da modernidade
líquida, interessada em apresentar e discutir o novo, sem os pré-conceitos
fossilizados dos cânones mofados. Infelizmente, grande parte da crítica
brasileira parou em Guimarães Rosa e Clarice Lispector. Depois deles, como diz
aquela canção do Leoni: “os outros são os outros, e só”. Nenhum escritor, no
entanto, pode desenvolver o seu trabalho, pensando no que a crítica dirá sobre
ele. Os livros, tal como os filhos, devem ser criados para o mundo. Por onde
vão os livros/filhos e o que dirão sobre eles, infelizmente não está sob o controle
de ninguém. Mais importante que publicar, no entanto, é escrever. Quanto mais
se escreve, melhor se escreve.
E me parece que assim pensou o grupo envolvido na publicação da Antologia de contos – Literatura BR (2016), organizada por Marco
Severo e Nathan Matos, publicada pela editora Moinhos. Trata-se de uma edição
que, embora bastante simples, demonstra o cuidado com que foi feita. O objetivo
da referida antologia é, conforme afirma Nathan Matos, na apresentação da obra,
possibilitar a divulgação de novos Quixotes. Por “Quixotes”, devemos
compreender os novos autores que ainda enfrentam grandes dificuldades para
produzir e divulgar seus trabalhos. Isso não nos causa mais nenhum espanto,
tendo em vista o eterno descaso do Estado com qualquer forma de cultura que
possa contribuir para o amadurecimento político-cultural da população
brasileira. Certamente por isso, a capa do livro, de Lily Oliveira, traz uma reprodução estilizada
de uma pintura de Gustave Doré (1832 – 1883), de 1863, representando Don
Quixote e Sancho Pança. Excetuando-se os escritores bem-nascidos, assim como
aqueles apadrinhados por membros da plutocracia nacional, os autores que
desejam, apesar da corrente em contrário, conquistar um lugar no “panteão” da
literatura brasileira precisam estar prontos, alertas e determinados a se
manter na constante luta contra os moinhos da desesperança tupiniquim.
O livro em questão traz
10 (dez) autores que contribuíram, cada um deles, com um conto. São eles: "Noiva" (p. 11 - 17), de Fabiane Guimarães, "Cúmplices" (p. 19 - 22), de Franck Santos "Quase sem luz" (p. 23 - 25), de Geórgia Cavalcante Carvalho, "Fronteira" (p.27 - 33), de Thiago Oliveira, "Guarda-memórias" (p. 35 - 40), de Mikaelly Andrade, "A verdade e a vida" (p. 41 - 44), de Paulo Henrique Passos, "Fora da faixa de pedestres" (p. 45 - 46), de Raisa Christina, "Véspera" (p. 47 - 48), de José Maria Saraiva, "A volta" (p. 49 - 56), de Rebecca Jordão, e "#PriceWorld" (p. 57 - 61), de Maik Wanderson. Dos dez contos
que compõem a antologia, 7 (sete) são excelentes, enquanto outros 3 (três) deixam muito a desejar, tanto no que diz respeito à tessitura da narrativa, quanto
a utilização da forma contística. Além dos textos narrativos, a obra traz ainda um texto de apresentação (p. 7 -8) e notas sobre os autores (p. 63 - 66).
O bom escritor, mesmo que de forma genérica, precisa saber quais são os aportes teóricos que embasam a sua prática enquanto contador de histórias. Dessa maneira, o contista que não consegue elaborar seu conto conforme aquilo que preconiza Poe (1809 – 1849), Tchekhov (1860 – 1904) ou Cortázar (1914 – 1984); provavelmente está escrevendo alguma coisa que nem de longe se parece com um conto. E assim agindo, corre o risco de cair falácia de que a produção de um texto literário depende mais de inspiração do que de qualquer outra coisa. Insistir nisso, é reproduzir tautologicamente um ignorante discurso vazio; coisa que não se espera de grandes autores.
O bom escritor, mesmo que de forma genérica, precisa saber quais são os aportes teóricos que embasam a sua prática enquanto contador de histórias. Dessa maneira, o contista que não consegue elaborar seu conto conforme aquilo que preconiza Poe (1809 – 1849), Tchekhov (1860 – 1904) ou Cortázar (1914 – 1984); provavelmente está escrevendo alguma coisa que nem de longe se parece com um conto. E assim agindo, corre o risco de cair falácia de que a produção de um texto literário depende mais de inspiração do que de qualquer outra coisa. Insistir nisso, é reproduzir tautologicamente um ignorante discurso vazio; coisa que não se espera de grandes autores.
E é sobre as questões de
vida, amor e morte que os dez autores da antologia se debruçam; alguns
direcionando suas narrativas com o intuito de contemplar a memória, a ironia, o
humor, a violência e o cotidiano, por exemplo. Dos dez contos apresentados, destacamos dois
que, a nosso ver são referenciais na constituição do conto enquanto gênero
literário, bem como no que concerne à maneira de como se contar uma história.
São eles: “Quase sem luz” (p. 23 – 25), de Geórgia Cavalcante Carvalho e o
excelente “Fronteira” (p. 27 – 33), de Thiago Oliveira.
Assim sendo, a Antologia de contos- Literatura BR alcança
seu objetivo ao apresentar ao público-leitor uma leva de jovens contistas
dispostos a conquistar espaço no mundo da literatura brasileira.
Considerando-se a qualidade dos textos em questão, isso não será problema. Os
contos (ou seriam os dados?) estão lançados. Que seus filhos ganhem o mundo!