As pessoas que conhecem a história do Brasil, por tê-la vivido mais diretamente, como aqueles que foram vítimas da ditadura civil-militar que assombrou esse país por mais de vinte anos, assim como aqueles que se dedicam a ler, estudar e compreender a razão desse tipo de barbaridade, sabem muito bem o peso que a palavra "fascista" contém. É claro que alguns analfabetos políticos e muitos idiotas úteis podem acreditar, do auge da sua estupidez, que aqueles foram os melhores tempos já vividos pelo Brasil. Isso se dá, entre outras coisas, pela desconstrução que, por muito tempo, tem sido operada na educação e na cultura do país, empurrando cada vez mais a população para a beira do abismo da ignorância e da idiotia. Uma telenovelinha alienante aqui, um telejornalzinho medíocre ali e um futebolzinho também, pois, "sem um pouco de cachaça, ninguém segura esse rojão". E a quem interessa tudo isso? Aos donos do poder, certamente. Taí o Raymundo Faoro (1925 - 2003), que não me deixa mentir.
Um dia, porém, a corda da intolerância e do ódio tinha que arrebentar. Mas eis que ela ainda não arrebentou de vez; está se desfiando e seus resultados já podem ser observados nas inúmeras crises humanitárias ao redor do mundo. Das guerras e dos migrantes ao ódio contra as reformas político-sociais postas em prática em países como o Brasil, por exemplo, o ódio disfarçado de "defesa dos direitos" e devidamente abençoado pela hipocrisia de algumas igrejas tem avançado de maneira assustadoramente rápida. E qual o objetivo? Derrubar, por meio dos chamados golpes "brandos", governos democraticamente eleitos", como o de Dilma Rousseff, no Brasil, e desconstruir projetos notadamente voltados para as populações mais carentes.
No caso brasileiro, bem como nos casos do Paraguai e de Honduras, tudo se deu acordo com a Constituição. Essa é então a grande ameaça. O grande pânico! E assim, amparados pela lei, toda a sorte de delinquentes se acha no direito de usurpar os direitos alheios, criando todo um cotidiano baseado no autoritarismo que transforma ( ou seria transtorna?) a sociedade em uma verdadeira arena; um campo de barbárie que, embora situado no contexto da pós-modernidade, nada mais é do que a mais perfeita tradução da medievalidade em todo seu obscurantismo.
No caso brasileiro, bem como nos casos do Paraguai e de Honduras, tudo se deu acordo com a Constituição. Essa é então a grande ameaça. O grande pânico! E assim, amparados pela lei, toda a sorte de delinquentes se acha no direito de usurpar os direitos alheios, criando todo um cotidiano baseado no autoritarismo que transforma ( ou seria transtorna?) a sociedade em uma verdadeira arena; um campo de barbárie que, embora situado no contexto da pós-modernidade, nada mais é do que a mais perfeita tradução da medievalidade em todo seu obscurantismo.
Atenta a esse circo de horrores, a esse "freak show" que tomou conta do Brasil, é que Marcia Tiburi propõe em seu Como conversar com um fascista - Reflexões sobre o cotidiano autoritário brasileiro, publicado pela editora Record no ano de 2015, confrontar o fascista com aquilo que ele mais detesta, que é o outro, por meio do diálogo. Claro está que não se trata de uma das propostas mais fáceis, uma vez que a ideia de diálogo implica em uma abertura de duas partes que desejam alcançar um mesmo objetivo, mesmo que por caminhos diferentes, sem que para isso nenhuma das partes envolvidas queira eliminar a outra, silenciando-o ou atacando-a em sus direitos. A proposta embutida no título do livro de Tiburi é provocadora, tendo em vista que aquele que age sem bases racionais não deve reconhecer o diálogo como forma racional de se chegar a um consenso sobre o que quer que seja. Rubens R. R. Casara, na apresentação que faz do livro, afirma: " (...) O fascismo, porém, não necessita de racionalizações, uma vez que se refere a dados intuitivos e imediatos, que não dependem de reflexão (ao contrário, o fascismo se alimenta de dados que não suportam qualquer juízo crítico), e, portanto, aptos a serem incorporados por todos, com mais facilidade, pelos ignorantes" (p. 11-12).
Casara afirma ainda que:
O fascismo possui inegavelmente uma ideologia: uma ideologia de negação. Nega-se tudo (as diferenças, as qualidades dos opositores, as conquistas históricas, a luta de classes etc.), principalmente, o conhecimento e, em consequência, o diálogo capaz de superar a ausência de saber. O fascismo é cinza e monótono, enquanto a democracia é multicolorida e em constante movimento. A ideologia fascista, porém, deve ser levada a sério, pois, além de nublar a percepção da realidade, produz efeitos concretos contrários ao projeto constitucional de vida digna para todos. (CASARA in TIBURI, 2015:12-13)
A observação feita por Casara é elucidadora de como tem se dado o processo sócio-político no Brasil, desde que forças ditas de esquerda conseguiram chegar ao poder, tendo as atitudes fascistas se exacerbado nos governos de Lula e Dilma. A disposição da plutocracia brasileira em não abrir mão de absolutamente nada que consista em alguma possibilidade de ascensão social dos menos favorecidos é notória. E é por esse viés que Marcia Tiburi discute a necessidade de se refletir acerca do autoritarismo que tem esparramado seus tentáculos, tal qual metástase, pelos mais variados setores da sociedade brasileira, a qual ainda é tão pueril na vivência da sua extremamente instável democracia.
Marcia Tiburi |
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Veja também:
Marcia Tiburi: "Autoritarismo virou a regra do nosso modo de pensar". Disponível em http://www.ocafezinho.com/2016/07/15/marcia-tiburi-autoritarismo-virou-a-regra-do-nosso-modo-de-pensar/
Veja também:
Marcia Tiburi: "Autoritarismo virou a regra do nosso modo de pensar". Disponível em http://www.ocafezinho.com/2016/07/15/marcia-tiburi-autoritarismo-virou-a-regra-do-nosso-modo-de-pensar/