Ancorado em uma poética
do absurdo, o teatro de Samuel Beckett (1906 – 1989) revoluciona grande parte
do drama produzido no Ocidente, no período do pós-guerra. Impactante, a obra
dramatúrgica beckettiana opta por uma linguagem que privilegia a elipse, o
silêncio, o corte e a imobilidade; o que a coloca em oposição ao chamado “teatro
convencional”, uma vez que esse se pauta, entre outras coisas, pela ação.
Embora as obras do
autor irlandês, no que concerne à sua poesia, contística e romance, sejam
consideradas de altíssimo nível literário; são suas peças que nos parecem mais
representativas de um período histórico assolado pelo medo, a solidão e o
isolamento causados pela constante ameaça de destruição da humanidade, as quais
se apresentam como elementos basilares do drama produzido no pós-guerra. Dessa
forma, são exemplos da sua produção as peças Esperando Godot (1952), Fim
de Partida (1957) e Dias Felizes
(1962).
Como não costuma ser
muito fácil se iniciar no texto dramatúrgico de Samuel Beckett, o livro As peças de Samuel Beckett (do original The plays of Samuel Beckett, de 1972),
de Eugene Webb, apresenta-se como uma alternativa agradavelmente didática de se
mergulhar no universo do referido escritor.

Sobre Samuel Beckett e
sua obra, Webb afirma:
Samuel
Beckett conhece bem não só o desespero do homem moderno, mas também a longa
história intelectual que desemboca nele. Suas obras contêm referências a filósofos
que vão dos pré-socráticos a Heidegger, Sartre e Wittgenstein. Essa extensiva
familiaridade com as raízes intelectuais da mente moderna é uma das principais
fontes da grande abrangência e da força de Beckett.
Sua
obra pode representar o desespero, mas ela não se entrega a ele. O desespero é
parte da realidade do nosso tempo, e como artista sincero Beckett teve de ser
fiel a essa realidade. Para encontrar um caminho além do absurdo é preciso
atravessá-lo. É isso que as peças de Beckett tentam fazer.
Foi
provavelmente por isso que Beckett disse em Berlim, em 1967, enquanto se
preparava para dirigir uma produção de Fim
de Partida, que a maneira de entender seus textos teatrais é falar “não de
filosofia, mas de situações”. As peças são explorações do sentido da vida
humana em sua realidade plena, e esse sentido não é uma ideia abstrata do tipo
que pode ser conhecido objetivamente com o intelecto, mas um mistério vivido
com o eu total. Por isso, embora tratem, em parte, de problemas filosóficos, elas
estão ainda mais interessada na psicologia – usando esse termo num sentido
bastante amplo – de indivíduos concretos. Suas peças tomam situações e
perscrutam-nas a fim de revelar a realidade humana que jaz em suas profundezas. (WEBB, 2012)
