A crônica é um mundo.
Por suas linhas, construções e proposições é possível erigir inúmeros
universos, paralelos ou não, capazes de trazer à tona a cotidianidade, as
memórias e os lirismos que nos constituem enquanto seres humanos. Sem sombra de
dúvida, Rubem Braga é, no Brasil, a principal referência quando se trata da boa
e velha forma de discorrer sobre os mais variados assuntos de maneira leve e
agradável. Estão aí os cronistas de viagem do período da conquista do Brasil,
que não nos deixam mentir. Embora eles mentissem muito, digo, inventassem
muito.
E eis que passado tanto
tempo, aquela que já foi tida como “a prima pobre da literatura”, deixou de ser
cativa dos jornais, passando a ocupar livros e, mais recentemente, as páginas da
Internet. Nesse contexto, ressaltamos a importância dos concursos e prêmios que
têm aberto espaço para a publicação do gênero crônica que, embora tenha sido
perenizado por autores como Bandeira, Drummond, Braga, Lispector e Paulo Mendes
Campos; por exemplo, ainda se ressente de uma compreensão crítica que o conceba
como um tipo de escritura que vai muito além do “rés do chão”, expressão
cunhada por Antonio Cândido, nosso crítico maior.
Dessa forma, é com
grande satisfação que damos a conhecer a publicação da coletânea de crônicas
trazidas a público pelo Serviço Social do Comércio do Distrito Federal – SESC/DF.
Trata-se do Prêmio SESC de Crônicas – Rubem Braga, cuja publicação saiu no ano de
2016, como resultado do concurso realizado em 2015. O concurso premiou os três
primeiros colocados. A coletânea, no entanto, contempla em sua publicação as
quinze melhores crônicas inscritas. A banca responsável por julgar os trabalhos
foi composta pelos seguintes nomes: José Santiago Naud, João Carlos Taveira,
Rosângela Vieira Rocha, Roberto Klotz e Danilo Carlos Gomes (p. 69- 71). A edição
é constituída de setenta e duas páginas, com apresentação do Presidente do
Conselho Regional do SESC – DF, Adelmir Santana. O Prêmio é, obviamente, uma
homenagem ao cronista Rubem Braga.
A crônica vencedora da
referida edição chama-se “Óculos Ray-Ban” (p. 9 – 11), de Tiago Germano. “A
maior distância do mundo fica entre duas estações” (p. 13 – 15), de Flávio de
Sousa ficou em segundo lugar. Alexandre Arbex Valadares ocupa a terceira
colocação com a crônica “Finados” (p. 17 – 19). Na sequência, tem-se “A igreja
e o sobrado” (p. 20 – 23), de Carlos Carvalho; “Um galo que canta” (p. 25 – 27),
de Ângela Gasparetto; “Memória de elefante em 10 dias” (p. 29 – 31), de Gisele
Lourenço; “O primo sabichão” (p. 33 – 35), de Gustavo Albuquerque Machado; “Todas
as manhãs do mundo” (p. 37 – 40), de Ana Paula Vieira de Moraes; “O mungunzá de
Dona Vanda” (p. 41 – 43), de Edgar Borges; “Quem não tem gato... Caça com peixe”
(p. 45 – 47), de Cácia Leal; “Os caminhos do meu pai” (p. 49 – 51), de Diana
Alencar; “Janelas pintadas de azul” (p. 53 – 55), de Lila Maia; “Sobre milagres
e espetáculos” (p. 57 – 59), de Karla Celene Campos; “Missioneiro Fake” (p. 61 –
63), de Athos Ronaldo Miralha da Cunha e “Não nasci comendo alface” (p. 65 –
67), de Ana Cristina Passarella Brêtas.
As crônicas contempladas
na edição 2015 do Prêmio SESC de Crônicas – Rubem Braga nos chamam atenção para
a alta qualidade da crônica produzida no Brasil, a partir dos cronistas naturais dos mais diferentes pontos do país. Nos referidos textos, percebe-se a
mestria na maneira como esses autores lidam com o fazer literário, trazendo
para suas narrativas aspectos que são, ao mesmo tempo, tão locais quanto
universais.
Assim sendo,
ressaltamos mais uma vez a importância de iniciativas como a do SESC/DF, uma
vez que contribuem para a democratização de autores e obras que precisam ser
conhecidos, lidos e compartilhados cada vez mais.
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