Toni Morrison é uma das
grandes romancistas dos últimos tempos, e o é não apenas pela qualidade
literária que imprime aos seus textos ficcionais, mas também pelo impacto que
seus textos de não ficção causam naqueles que acompanham seu trabalho, uma vez
que seus textos estão sempre em consonância com o ser humano, principalmente o
negro. Seu lugar de fala é o momento
histórico no qual está inserida.
Na primavera do ano de
2016, Toni Morrison foi convidada para proferir uma série de palestras na
Universidade de Harvard. Juntas, essas palestras foram publicadas no ano
seguinte pela editora da própria Harvard, constituindo um total de seis textos,
livro este que ainda está sem tradução para o português brasileiro. O trabalho
recebeu o nome de The origin of others
(2017) e tem como prefaciador o escritor Ta-Nehisi Coates. Os textos que
compõem o livro são: “Romancing slavery” (p. 1-18), “Being or becoming the
stranger” (p. 19-40), “The color fetish” (p. 41-54), “Configurations of
blackness” (p. 55-74), “Narrating the other” (p. 75-92) e “the foreigner’s
home” (p. 93-112).
Através dos seis ensaios
que compõem The origin of others (A origem dos outros, em tradução livre),
Morrison reflete sobre temas que são recorrentes em seus romances e ensaios,
mas que não são motivo de preocupação apenas para ela, uma vez que são assuntos
que dizem respeito a todos os seres humanos: raça, medo, fronteiras, diásporas,
bem como o desejo de pertencimento. Assim sendo, algumas questões são postas
pelo texto da autora norte-americana: o que é e por qual razão a raça importa?,
Como construímos o outro?, Por qual razão a presença do outro nos assusta? Na tentativa
de apontar possíveis respostas para essas perguntas, Toni Morrison recorre não
apenas à sua memória, mas também à História, à política e, especialmente, à
literatura, analisando obras de autores como Harriet Beecher Stowe, Ernest Hemingway,
William Faulkner e Flannery O’Connor entre inúmeros outros. Além disso, a
autora toma como exemplos o processo de construção de alguns dos seus romances,
como Amada (1987), Paraíso (1997) e Compaixão (2008), por exemplo.
Ao se tomar o racimo como
exemplo é possível afirmar que a literatura assume papel relevante no que diz
respeito às questões de raça, na América, tanto de forma positiva quanto
negativa. Em The origin of others (2017),
Toni Morrison escreve sobre os esforços literários do século XIX, que tentavam
romancear a escravidão, contrastando esses escritos com a realidade observada
no racismo científico de Samuel Cartwright, assim como nos diários do dono de escravos Thomas
Thistlewood. Para tanto, Morrison se detém sobre as configurações da negritude e as noções de pureza racial, bem como nas formas de como a literatura utiliza a cor
da pele para revelar caráter ou conduzir narrativas. Toni Morrison aborda ainda
questões que dizem respeito ao processo de globalização, assim como às
diásporas em curso constante.
O prefácio de Ta-Nehisi Coates é uma obra de
arte à parte. Toni Morrison recebeu o Prêmio Nobel de Literatura de 1993. É,
sem sombra de dúvidas, uma das autoras mais importantes da literatura universal
de todos os tempos.
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