No Brasil, houve um tempo em que os textos denominados de “escritas de si” não eram vistos como material capaz de acessar a obra de escritores, escritoras, políticos e artistas em geral, de forma a ajudar na compreensão da obra. Como raras exceções, tínhamos a obra de Pedro Nava, O diário de Helena Morley e o Quarto de despejo: diário de uma favelada, de Carolina Maria de Jesus, por exemplo. Embora se louvasse e batesse cabeça para a obra de Proust, Nava e Morley, quase nunca se falava de Carolina Maria de Jesus. Por qual razão seria, caro leitor?
Felizmente, as coisas
mudaram (precisaram mudar lá fora primeiro, é claro) e hoje tem-se uma grande
quantidade de biografias, diários, autobiografias e cartas, que são fonte para
muitos pesquisadores. As escritas de si constituem-se como um reflexo da vida
daqueles que fazem o registro. Assim, pelo diário ou pelas cartas de um
escritor é possível compreender sua posição, bem como a posição da sua arte,
num determinado contexto sócio-histórico.
“Clarice viveu a maior parte das décadas de 1940 e 1950 no exterior, de modo que escreveu bastante neste período tanto para manter o afeto da família e dos amigos que deixara no Brasil quanto para tratar da publicação dos seus livros. Isso apesar de afirmar que “não sabia escrever cartas”, já que fugia das descrições características das missivas de viagem. Sorte nossa, pois dessa forma suas cartas são tão interessantes quanto o resto de sua produção escrita: um convite à reflexão e um espelho de uma alma em permanente indagação sobre a condição humana”.
Além
de Todas as cartas, a editora Rocco também tem publicado Todos os
contos e Todas as crônicas da autora.
Nenhum comentário:
Postar um comentário