Belchior era amigo de
Ednardo que é amigo de Fausto que é amigo de Fagner e de Rodger Rogério, Téti e
Pedro que é amigo de Ricardo que é amigo de Ibiapina que é amigo de Mariano e
Alano que são amigos de Paulo que é amigo de Alexandre que é amigo de Isabel
que é amiga de Bruno que é amigo de Edvardo que é amigo de Campelo e Chica,
Dedé, Leny, Mércia, Sérgio e Jorge que é amigo de Mônica que é amiga de Ataliba
que é amigo de Graco que é amigo de Barbosa que é amigo de Caio que é amigo de
Beatriz que é amiga de Frederico e de Cláudio que era amigo de Gilmar que era
amigo de Celso que é amigo de Eugenio e Daniel e Luciano e Mário e Romeu que é
amigo de Galba que é amigo de Wagner que é amigo de Cid e Lúcio que são amigos
de Patrícia que é amiga de Solon que é amigo de Ana que é amiga de Fernando e
Roberto.
Pode ser que nem todo
mundo que é citado como “era/é amigo ou amiga de” nem o seja, mas o que todas
essas pessoas têm em comum é que
tiveram, sim, um amigo genial chamado Francisco Augusto Pontes, conhecido
também como Augusto Pontes ou apenas Chico Pontes. Augusto pontes (1935 – 2009)
é tido por aquelas pessoas que partilharam do seu convívio, como uma figura
inteligente, culta e marcante tanto no âmbito pessoal quanto profissional. E é
exatamente sobre ele que trata o livro Augusto
Pontes: o amigo genial (2022), organizado por Ricardo F. Bezerra e publicado
pela Expressão Gráfica e Editora, de Fortaleza.
O livro possui 285
páginas. As orelhas são assinadas por Rachel Gadelha, Diretora-presidenta do
Instituto Dragão do Mar e por Fabiano dos Santos Piúba, Secretário de Cultura
do Ceará, que dizem:
(...) Augusto é incomparável.
Espírito audacioso sustentado sobre uma sólida formação intelectual foi
personagem determinante nos movimentos artísticos do Ceará desde a década de
1960, sobretudo na música popular que projetou tantos parceiros e amigos seus
no cenário nacional (...). Suas concepções sobre cultura, comunicação,
democracia e liberdade ainda hoje são referências para muitos: através de
amigos, artistas, professores, comunicadores, formadores de opinião, e toda uma
geração de pessoas que, posteriormente, vieram inclusive a
ocupar cargos na gestão pública e tiveram nele uma espécie de “guru”. O próprio
Augusto foi secretário de Cultura do estado do Ceará (1991 – 1993) e deixou um
legado importante sobre um pensamento não só de cultura, mas de política
cultural, ampliando a noção de cultura para além das artes e inserindo a agenda
da formação como uma pauta estratégica. O que vieram de projetos, experiências
e instituições de formação cultural em nosso estado são legados de seu
pensamento pulsante (...). Não é por
acaso que o lema que o guiava à frente da SECULT era: “Vá ao teu povo, ame-o,
aprende com ele, sirva-o, comece com o que ele sabe, construa sobre o que ele
tem” (...).
A obra é constituída de
depoimentos das amigas e amigos de Pontes e, por tal razão, muitas vezes as
informações se repetem, por se tratarem de memórias relativas aos
acontecimentos que foram vivenciados coletivamente na rua, na Praça do Ferreira
ou no Bar do Anísio, por exemplo, quando muitos desses amigos e amigas compartilhavam
as conversas e as noitadas numa Fortaleza que já não existe mais. Há, e isso o
leitor perceberá, informações contraditórias, quando se compara o mesmo fato
mencionado por amigos diferentes. Isso, no entanto, não diminui a qualidade e a
relevância do trabalho, uma vez que tais detalhes podem ser confirmados ou
refutados a partir de outras fontes disponíveis.
O livro está organizado
em oito grandes partes, a saber, “Pontes por nós” (p.7), “Pontes para o teatro”
(p.228), “Carta íntima do tempo” (p. 244), “Pontes para as canções” (p. 247),
“Humor: uma marca pessoal” (p. 264), “Um pós-fácil para Pontes” (p. 274),
“Adjetivário e Agradecemos” (p. 281) e “Índice de autores” (p. 285). Augusto
Pontes não deixou trabalhos escritos em formato de livro, por exemplo. Logo,
não há uma sistematização dos seus pensamentos e ideias a não ser a partir do
que dizem seus amigos. O livro deixa claro, em mais de uma ocasião, que há sob os
cuidados da família um grande arquivo com suas anotações, desenhos, projetos
etc. Dos seus escritos, o livro traz um texto (p. 244 – 246) intitulado “Carta
íntima do tempo” e que havia sido confiado por ele a Ieda Estergilda, nos anos
1970. O texto traz algumas reflexões, que podem apontar caminhos aqueles que
desejem se aprofundar na vida e na obra do autor em questão.
A organização,
catalogação e consequente publicação do arquivo de Augusto Pontes seria de
enorme valia para todas as pessoas que tem interesse em seu trabalho, bem como
dos tantos pesquisadores que se debruçam sobre movimentos como o Massafeira e o Pessoal do
Ceará, dos quais Pontes foi ator. Isso, no entanto, demanda tempo, interesse
público e dinheiro; coisas sempre difíceis quando o assunto é cultura. Mas
seguimos esperando, tristes, como dizia Pontes, como um peixe afogado.
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