Cantor, compositor,
arquiteto, urbanista e ilustrador, Fausto Nilo é um artista múltiplo surgido no
cenário cultural nacional dos anos setenta, com o grupo que viria a ser
conhecido como o Pessoal do Ceará,
cujos integrantes eram Belchior, Ednardo, Amelinha, Fagner, Téti e Rodger
Rogério, entre outros. Como compositor, a poética de Fausto Nilo se destaca
pela alta qualidade da sua elaboração, assumindo lugar de destaque entre os
grandes compositores da sua geração.
Enquanto escrevo este
texto, escuto Nilo cantar “Você se lembra”, letra sua em coautoria com Pippo
Spera e Geraldo Azevedo, do disco Esquinas
do deserto (2006), parte integrante do Box
que contém ainda Verso e Voz (2004)
ao vivo, e Casa tudo azul
(2002-2006). A referida canção também ficou uma lindeza nas vozes de Geraldo
Azevedo e Chico César, no trabalho Violivoz
(2023). Ouvir as canções de Fausto Nilo
é como “sonhar em Casablanca e se perder no labirinto de outra história”. Logo,
não é exagero dizer, que somente os mestres possuem tamanho dom.
A prezada leitora e o
caríssimo leitor podem até pensar que jamais ouviram sequer uma canção desse
cara incensado aqui pelo articulista. Ledo engano! Pois já ouviram, com
certeza: “Eu também quero beijar” (Moraes Moreira, Pepeu Gomes e Fausto Nilo),
“Coisa Acesa” (Moraes Moreira e Fausto Nilo), “Meninas do Brasil” (Moraes
Moreira e Fausto Nilo), “Bloco do Prazer” (Moraes Moreira e Fausto Nilo)
“Chorando e Cantando” (Geraldo Azevedo e Fausto Nilo), “Pequenino Cão” (Caio
Sílvio e Fausto Nilo), “Chão da Praça” (Moraes Moreira e Fausto Nilo), “Pão e
Poesia” (Moraes Moreira e Fausto Nilo), “Pedras que cantam” (Dominguinhos e
Fausto Nilo) e, entre inúmeras outras, “Zanzibar”, de Fausto Nilo e Armandinho,
sucesso com A Cor do Som.
Avis rara da MPB, Fausto Nilo é daqueles compositores que
conseguem ir dos temas banais aos mais elaborados, ou seja, consegue mergulhar
no erudito sem jamais se descuidar do popular. Eis aí, talvez, um dos segredos
do poeta, que assim como o eu lírico de Bilac, inveja o ourives quando escreve,
imitando o amor, “com que ele, em ouro, o alto relevo, faz uma flor”. Mas
diferentemente de Bilac, Fausto Nilo é um poeta que escreve como quem faz um
filme. E assim, tal qual Fellini, olha a vida e entende que dela há sempre algo
a se tirar, um poema, uma letra que seja. O resultado é como se
uma caravana de alegria nos atravessasse o coração todas as vezes que o ouvimos
cantar, “estranho como a primeira, a primeira Coca-Cola”, descortinando os
escaninhos da canção e fazendo pulsar as relações entre o compositor/cantor, a
letra e o ouvinte.
No ano de 2016, as
edições Demócrito Rocha lançaram o livro Fausto
Nilo, da Coleção Terra Bárbara Premium, escrito por Marcos Sampaio. Lá,
Fausto Nilo diz: “Quase sessenta anos da minha vida dediquei à minha
sensibilidade, a um desejo de um país rico, com distribuição justa de
oportunidades sociais e acho que vou morrer com essa esperança. Talvez eu não
veja, mas continuo com expectativa de que se reduzam os preconceitos, as
diferenças de oportunidades e dignidade...” (SAMPAIO, 2016:72). Nada menos que
isso poderíamos esperar de um poeta em consonância com seu tempo. Fausto Nilo
comemora oitenta anos. Vida longa ao poeta!
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