Para Mateus da Silva
(in memoriam)
Mateus da Silva é uma dessas
figuras singulares. Artista plástico, escultor, poeta e quase um dândi às
avessas. Mateus mora na cidade de Fortaleza, a terra do sol. Mas, com ou sem
sol, Mateus conseguiria se virar em qualquer lugar. Conheci o Mateus, não
lembro muito bem quando. Mas faz tempo, muito tempo. Não sei se tem mulher,
irmãos, filhos, pai ou mãe. Apenas conheci o Mateus e me apaixonei pela sua
capacidade de pintar coisas que sempre imaginei, mas que jamais saberia
transformar em arte. Também me apaixonei pela sua capacidade de me oferecer
quadros, que nunca me recusaria comprar. Assim, devo ter umas dez telas
pintadas por ele. São abstratos, naturezas mortas e outras coisas
"inclassificáveis", mas igualmente belas. Prefiro os abstratos, pois
gosto de imaginar coisas, "criar" a partir daquilo que já está posto.
Deduzir, inferir.
Já faz muito tempo que não encontro Mateus. Ele não tem dado o ar da graça. Sumiu feito leite. Mas talvez estejamos apenas em desencontro, uma vez que mudei de casa, de cidade. O fato é que sinto falta do Mateus. Por onde andará Stephen Fry? A última vez que vi Stephen Fry, digo, Mateus, foi num domingo de um ano qualquer. Ele chegou com uma pasta debaixo do braço, sentou, cruzou as pernas e, ao tomar café, disparou: "Trouxe meu livro para você ler, ajustar e escrever o prefácio". E eu: Como assim? O "livro", de umas cinquenta páginas chama-se Da Beleza do Mundo. É, na verdade, o esboço de um livro de poemas. Diga-se de passagem, poemas muito bons. Poemas que trazem em si a consistência da sensibilidade do homem Mateus, do artista plástico, do poeta. Digo esboço, pois o livro ainda não tomou forma. Ainda está impresso e fotocopiado.
NOTA: O texto acima está publicado originalmente em:
CARVALHO, Carlos. Memória de peixe. Fortaleza: Universidade de Fortaleza, 2010.
Fiz algumas alterações e o posto aqui em homenagem ao amigo Mateus da Silva, que se encantou em 2025.
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