Não deu no New York
Times, mas saiu em todos os veículos da imprensa brasileira a frase: “Tem que
organizar a casa. Está uma esculhambação”, que teria sido dita pelo deputado
federal Arthur Lira (PP-AL) em um grupo de mensagens com integrantes de seu partido
na Câmara, após a manutenção do mandato do deputado Glauber Braga. No Nordeste,
a palavra “esculhambação” é bastante usada no sentido de “desorganização” e
“confusão”. A maneira como boa parte dos adolescentes “organiza” seu quarto é,
por exemplo, uma verdadeira “esculhambação”, com tudo espalhado por todos os
lugares. Quando você vai a um evento com
lugar marcado e, chegando lá percebe que não há nenhum controle, com as pessoas
sentando onde bem entendem, isso também pode ser considerado como exemplo de
“esculhambação”.
O que tem ocorrido na
Câmara dos Deputados, no entanto, está muito longe do que a palavra usada pelo
poderoso parlamentar comporta, pois não se trata de mera “esculhambação”.
Tramar para que parlamentares condenados pela justiça continuem no exercício
dos seus mandatos, mesmo morando ou presos fora do país, não constitui
“esculhambação”, mas um ataque frontal ao Estado democrático de Direito.
Ordenar que a policia legislativa retire à força do plenário da Câmara um
deputado de oposição, que tem reiteradas vezes denunciado os conchavos e os
destinos dados às emendas parlamentares não é de bom tom. Também não é
“esculhambação” parar as filmagens da Câmara e mandar a polícia retirar à força
os jornalistas da “casa do povo”, coisa que não se via no Brasil há uns
quarenta anos após o fim da ditadura. O nome disso é outra coisa, deputado. E
de onde quer que esteja, o famigerado general Newton Cruz gargalha e se orgulha
dos parlamentares que aí estão, pois tratam a imprensa tal e qual ele fazia.
A maior parte da
população brasileira considera uma vergonha, e não uma “esculhambação”, o que
tem acontecido diuturnamente no Congresso Nacional. Suspender a escolta
policial de uma deputada ameaçada de morte, por exemplo, somente por ela tecer
críticas ao líder da Casa, também nem de longe consiste em uma “esculhambação”,
mas em um salve aos criminosos incomodados com o exercício da parlamentar, no
caso a deputada Talíria Petrone. A quem interessa jogar a referida parlamentar
aos leões como foi feito com Marielle Franco?
Não é preciso ser um
gênio para perceber que o Congresso Nacional perdeu o rumo, navega à deriva e
cada vez mais se distancia do povo. E se isso se dá é pela razão de nossos
parlamentares terem se desvirtuado da sua missão principal, que é trabalhar
pela melhoria das condições de vida do povo brasileiro, e não pelos seus
interesses particulares. Deputadas e deputados se reunirem na calada da noite
para aprovar o PL da Dosimetria, cujo objetivo principal é livrar da cadeia os
bandidos que atentaram contra a democracia brasileira não é uma simples
“esculhambação”. O nome disso é golpe continuado. É esfaquear o povo pelas
costas, enquanto ele dorme. É minar as Instituições na tentativa de enfraquecer
o sistema judicial do país. Isso, definitivamente, não é “esculhambação”. O
nome disso é outra coisa. Infelizmente, o Congresso Nacional se tornou o
inimigo público número um do povo brasileiro. E se perguntassem àquele
ex-senador cearense o que ele acha do atual Congresso Nacional, talvez ele
respondesse que: “não vale um cibazol”.
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