sábado, 28 de dezembro de 2013

IV COLETÂNEA DE CONTOS SESC



Excetuando-se os autores canônicos, os bem relacionados, os que podem pagar ou os medalhões da literatura brasileira; os meros mortais que desejam publicar seus trabalhos precisam aguardar os editais do governo ou ansiar pelos prêmios e concursos que vez ou outra aparecem por ai. Esses prêmios e concursos, quando surgem, geralmente pecam pela qualidade das impressões das obras, pela demora em entregar o prêmio (quando é em dinheiro é uma miséria!) e até pela divulgação dos trabalhos participantes. Não falamos aqui, é claro, dos grandes prêmios que ocorrem em nível nacional, como o Jabuti, por exemplo, mas de prêmios mais locais, como aqueles lançados por governos estaduais, municipais, associações e universidades privadas, para ficarmos apenas em alguns. Longe de condená-los, digo sim, que são importantes e necessários como oportunidade para novos (veteranos também) autores mostrarem seus trabalhos. Se assim não o fosse, talvez o resto do Brasil nem tivesse conhecido o poeta Francisco Carvalho, uma vez que ao vencer o Prêmio Nestlé de Literatura, teve seu nome divulgado aos quatro cantos do país. A não ocorrência disso, também não teria impedido esse homem de ter sido o grande poeta que se tornou, detentor de uma das obras poéticas mais significativas da literatura brasileira.

Vencer um desses concursos não implica dizer que o autor, da noite para o dia, se tornará conhecido de todos e venderá absurdos de livros (nunca na história desse país!). Isso não ocorre, nem ocorrerá se não houver uma logística de divulgação, coisa que não interessa às editoras e livrarias, que preferem apostar, com raríssimas exceções, nos mesmos velhos nomes de sempre. Alguns deles, escrevendo as mesmas coisas de sempre, para os mesmos leitores de sempre. E assim, aos trancos e barrancos, o Brasil dá no que dá.

Serviço Social do Comércio - SESC, no entanto, tem dado sua contribuição ao manter, entre outros, seus concursos literários, premiando e divulgando o trabalho de novos autores. E eis que sai do forno, bem quentinha, a IV Coletânea de Contos, organizada pelo SESC Crato, no Ceará. O concurso é realizado a cada dois anos, e para a edição de 2012 foram selecionados dez contos de grande qualidade literária, contando com a apresentação da escritora Ana Miranda.

Os contos vencedores dessa IV edição foram: A pasta azul, de Silas Falcão; As pupilas de Safo, de Lorena Kelly; O escritor de guardanapo, de Raphael Alves; Catedral, de Geórgia Cavalcante; Irretocável, de Sibéria Carvalho; O carrasco, de Francisco Alves Rocha; O testamento, de Cícero Eduardo; Profundamente, de Paula Izabela A. Alves; Ramirez, de Nataly Pinho Chaves e Seu Dé, de Ricardo da Costa Campos.

As narrativas presentes na IV Coletânea de Contos do Sesc Crato trazem as mais variadas temáticas, produzidas com a clareza e objetividade necessárias ao conto. E assim, tal qual posto por Edgar Allan Poe em sua Filosofia da Composição (1846), podemos ler cada uma dessas narrativas de uma só sentada, sem perdemos o que cada uma delas se propõe. Mas não caiamos na ingenuidade de acharmos que são narrativas sem aprofundamento, pois não o são; haja vista todo o aprofundamento existencial observado no conto Catedral, de Geórgia Cavalcante, por exemplo. E dessa forma, convém relembrarmos a teoria do iceberg que, embora recorrentemente usada como aplicação para a compreensão do conto hemingwayniano, também pode ser aplicada aos contos que compõem a coletânea em questão, ou seja, o bom conto é como um iceberg que enquanto mostra apenas sua ponta, esconde um todo gigantesco embaixo da água. E triste daquele leitor que ao ver apenas "a ponta" do conto, acredite estar compreendendo o seu todo.

Sobre a diversidade de temáticas presentes na IV Coletânea de Contos do Sesc, convém reproduzirmos o que observa Ana Miranda: " Mesmo com toda essa diversidade, o que vemos, no conjunto desses contos, é uma predominância da vida urbana e da realidade contemporânea, os apelos da imaginação e o fascínio da brincadeira das palavras. E, dentro das tendências do conto contemporâneo, a eleição do instante e da situação em detrimento da anedota (...)".

A IV Coletânea de Contos do SESC já está circulando por ai.  Daqui, desejo uma boa leitura a todos aqueles que ainda se deixam encantar com palavras que falam de amor, de vida e de tudo o mais que cabe no escopo dessas duas palavrinhas.










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