Saga é, conforme a maioria dos dicionários, uma narrativa heroica cheia de acontecimentos maravilhosos e extraordinários. Trata-se, conforme Baldick (1990), de um termo de origem nórdica usado para denominar as narrativas em prosa compostas durante a Idade Média, na Escandinávia e na Islândia por volta dos séculos XXII e XIV . É claro que com o decorrer do tempo, o termo "saga" assumiu novas significações e até ressignificações, uma vez que nem toda saga aponta para feitos escandinavos nem tem que ser permeada de acontecimentos maravilhosos e extraordinários se tomarmos ambas as palavras ao pé da letra, principalmente no contexto da literatura fantástica.
Deixando de lado esses pormenores, o que aproxima o cangaceiro Jesuíno Brilhante, o escritor Rodolfo Teófilo e o pesquisador Sânzio de Azevedo? As respostas podem até ser as mais variadas (até absurdas), mas a que aqui nos interessa é aquela proposta pelo professor Sânzio de Azevedo ao escrever seu ensaio sobre o livro de Rodolfo Teófilo, Os Brilhantes (1895), analisando a saga de Jesuíno Brilhante, o cangaceiro que virou lenda no Rio Grande do Norte.
Sânzio de Azevedo |
Na obra em questão, o autor discorre sobre o já citado livro de Rodolfo Teófilo, autor reconhecidamente importante para a compreensão da literatura cearense. Por literatura cearense, concebemos não apenas aquela publicada no Ceará, mas também aquela produzida por um cearense independentemente de onde quer que ele esteja; podendo acrescentar ainda aquela literatura produzida por aqueles que são "cearenses por que querem". Nesse último quesito, inclui-se o próprio Teófilo. Nascido em Salvador, Bahia, no ano de 1853, Teófilo costumava afirmar que: "Sou cearense porque quero". E assim sendo, Rodolfo Teófilo acabou por se tornar um cearense dos mais bravos, determinados e cultos. Sua bibliografia é bastante relevante em quantidade e qualidade, abrangendo os mais variados campos do conhecimento.No que concerne aos romances que publicou, merecem destaque A Fome (1890), Os Brilhantes (1895), Maria Rita (1897) e O Paroara (1899).
Ao discorrer sobre o Naturalismo e a inspiração regional no Ceará, Alfredo Bosi, em História Concisa da Literatura Brasileira (1980) afirma:
Do Ceará, terra de Adolfo Caminha, também provieram outros naturalistas que dariam à região da seca e do cangaço uma fisionomia literária bem marcada e capaz de prolongamento tenazes até o romance moderno (...). A vivacidade desse contexto cultural permitiu virem à luz alguns romances regionais: (...); A Fome (1890), Os Brilhantes (1895) e O Paroara (1899), de Rodolfo Teófilo, livros atulhados do jargão científico do tempo, mas que valem como retorno literário ao pesadelo da seca e da imigração. (BOSI, 1980: 217-218).
O ensaio de Sânzio de Azevedo tomo como objeto de análise a segunda edição do romance Os Brilhantes, publicado em Fortaleza no ano de 1906. Conforme Azevedo, o referido romance trata: "...da história romanceada do criminoso Jesuíno Brilhante e de seu bando, cujas peripécias ficaram famosas, principalmente no Nordeste brasileiro (à época denominado Norte), na segunda metade do século XIX". O ensaio está organizado da seguinte forma: uma introdução na qual o autor teoriza sobre o Realismo e o Naturalismo p.07-24). Em seguida, discorre sobre o cangaço (p. 25-29). A partir da página 30, o pesquisador apresenta a obra, tecendo uma análise detalhada do romance, abordando todos os aspectos constituintes do texto literário de Rodolfo Teófilo (p. 30-80). Na sequência, há uma parte dedicada a animalização do homem, tomando por base teórica o texto A metáfora do corpo no romance naturalista (1973), de Sonia Brayner.
A recepção do livro pela crítica é analisada pelo pesquisador no espaço que vai da página 97 até a página 109. A história de Jesuíno Brilhante e as várias versões que existem para a mesma história também são abordadas no texto de Sânzio de Azevedo desde a página 111 até a 123. A crítica feita por José Veríssimo e as consequentes alterações feitas pelo autor no referido romance estão devidamente comentadas da página 125 até a 129.
Rodolfo Teófilo e a Saga de Jesuíno Brilhante (2013) é mais um trabalho de fôlego do pesquisador Sânzio de Azevedo, vindo confirmar a excelência das suas pesquisas e a dedicação que demonstra aos estudos da cultura cearense, especificamente aqueles ligados à literatura. Os pesquisadores agradecem.
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