Nos últimos anos muito se tem falado sobre o fim do livro. Curioso, no entanto, é que mesmo com o advento do livro digital nunca se publicou tanto, nunca se leu tanto. Os motivos podem ir desde a vontade de se exilar de um mundo amedrontador, de uma vida cruel ou apenas pelo simples prazer de experimentar o deleite proporcionado pela leitura, independentemente do suporte, seja ele físico ou digital. É bom saber que em algum lugar do mundo há alguém escrevendo para o deleite de outros. Refiro-me especificamente àqueles que produzem ficção, pois, como Todorov, acredito que só a ficção nos salva.
E eis que temos mais uma oportunidade de nos deleitarmos com a prosa do escritor Jards Nobre. O mesmo Jards Nobre que nos brindou em 2009 com o romance Curral de Pedras. Narrativa das mais engenhosas, o romance estreante de Jards Nobre, publicado pela editora ABC, reúne vários dos elementos comuns à estética Realista/Naturalista. Assim, caso o leitor desatento caia na "armadilha" do autor, poderá acreditar, de imediato, tratar-se apenas de mais uma história, que se desenvolverá a partir de um suposto triângulo amoroso, tão recorrente nos romances realistas. Contudo, e isso é muito bom, o autor não se limita a revisitar Madame Bovary, O Primo Basílio, Dom Casmurro, O Ateneu ou O Cortiço; mas vai além. Costura a trama que envolve as personagens principais, com os mais relevantes ingredientes constituintes das chamadas narrativas contemporâneas, mostrando-se um exímio contador de uma boa história, capaz de prender a atenção do leitor até o desfecho da narrativa. E essa é, a meu ver, característica indispensável ao bom escritor.
E eis que temos mais uma oportunidade de nos deleitarmos com a prosa do escritor Jards Nobre. O mesmo Jards Nobre que nos brindou em 2009 com o romance Curral de Pedras. Narrativa das mais engenhosas, o romance estreante de Jards Nobre, publicado pela editora ABC, reúne vários dos elementos comuns à estética Realista/Naturalista. Assim, caso o leitor desatento caia na "armadilha" do autor, poderá acreditar, de imediato, tratar-se apenas de mais uma história, que se desenvolverá a partir de um suposto triângulo amoroso, tão recorrente nos romances realistas. Contudo, e isso é muito bom, o autor não se limita a revisitar Madame Bovary, O Primo Basílio, Dom Casmurro, O Ateneu ou O Cortiço; mas vai além. Costura a trama que envolve as personagens principais, com os mais relevantes ingredientes constituintes das chamadas narrativas contemporâneas, mostrando-se um exímio contador de uma boa história, capaz de prender a atenção do leitor até o desfecho da narrativa. E essa é, a meu ver, característica indispensável ao bom escritor.
Passados três anos de maturação desde o
lançamento do festejado Curral de pedras,
Jards Nobre surge com Pássaros sem
canção. Cuidadoso, o autor afirma tratar-se de um romance com
características neo-naturalistas e neo-realistas, deixando claro tratar-se de
uma narrativa de leitura inadequada para menores de 18 anos. Motivo? A obra
contém linguagem obscena, descrição explícita de relações sexuais,
homossexualidade e estupro. São elementos “explosivos” que se não forem
manuseados com perícia podem explodir na cara do próprio autor. Mas Nobre não é
apenas um autor, mas um autor que conhece os meandros da elaboração ficcional,
demonstrando isso a cada novo trabalho. A casa da ficção, alerta James Wood,
tem muitas janelas, mas só duas ou três portas e, ao analisarmos o romance em
questão, parece-nos claro que Jards Nobre sabe exatamente onde estão as tais
três portas. Ouso afirmar, inclusive, que ele até encontraria uma quarta se ela
existisse. Será que não existe?
Dos elementos da narrativa de ficção,
talvez, dependendo do autor, o mais difícil seja, ainda conforme Wood, a
criação das personagens. Em Como funciona
a ficção (2011), o referido autor afirma: “o romancista inexperiente se
prende ao estático, porque é muito mais fácil descrever do que o móvel: o
difícil é tirar as pessoas desse amálgama estagnado e movimentá-los numa cena”.
E é com a maestria de um romancista experiente que Jards Nobre conduz suas
personagens principais, Renato e Adriano, pelo céu e inferno da narrativa que
agora nos apresenta, numa tentativa de se soltarem das amarras do tempo, das
armadilhas da vida.
Pássaros
sem canção é uma história de amor, de um amor que até pouco tempo não
ousava dizer seu nome. E por ser assim, também é uma história sobre a crueldade
do humano, a hipocrisia da sociedade e a mesquinhez do espírito. Por tal ótica,
a obra de Jards Nobre parece não apresentar nada de novo. Mas apenas parece. Cabendo
a cada um dos seus leitores a compreensão do que é proposto pela narrativa,
pela provocação do romancista. E será que todos compreenderão a narrativa?
Claro que não. Quantos não tentarão ver chifres em cabeças de cavalos, unicórnios
no jardim; ou seja, quantos leitores não se sentirão tentados a confundir autor
com narrador, realidade com ficção? O que o leitor fará com a narrativa a
partir de agora não cabe mais ao autor responder. Os livros são como filhos,
uma vez postos no mundo, devem seguir seu caminho sob os olhares dos outros.
Inclusive daqueles que só têm olhares para os outros. Pássaros sem canção é uma obra que traz em si o signo da provocação
e a qualidade literária de um autor que se reinventa a cada novo trabalho.
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