As prateleiras das grandes livrarias estão abarrotadas de biografias. São biografias de gente muito interessante, mas também de gente que nada tem a dizer que valha a pena ser lido. O deus mercado, no entanto, não é preconceituoso. Assim sendo, se há quem compre, por qual razão não vender? Dessa forma, Proust divide espaço com Paulo Coelho, que divide prateleira com o padre fulano, que está bem ali ao lado daquela funkeira, a qual, por sua vez, está coladinha naquela "famosa quem", observada de perto pelos tristes olhos de Tolstoi.

No que diz respeito à estrutura, o livro está dividido em duas partes. A primeira é denominada de "Ascensão", enquanto a segunda é "Decadência". A primeira traz 11 subcapítulos e a segunda, nove. Contudo, amado leitor, se você tem interesse em saber sobre o homem que encantou meio mundo com sua beleza e seu questionável talento enquanto ator, infelizmente muito pouco ou quase nada disso você encontrará no livro de Forestier. Jornalista da revista Nouvel Observateur e autor da festejada biografia Marilyn e JFK (2009), Forestier escreve uma obra travada, cheia de ranços e posicionamentos pré-concebidos, os quais em nada ajudam na narrativa empregada na tentativa de desnudar o véu da beleza, e mostrar a tal da "face sombria" do ator de Sindicato de ladrões. Ao contrário, a impressão que se tem é de uma tentativa de mostrar o "monstro" Marlon, que se escondia por dentro do homem Brando. Chega a ser patético a suposição de que Marlon Brando possuía o "dom" de fazer morrer aqueles à sua volta como se o suicídio fosse decidido por outro que não pela própria pessoa que desejar se matar.

Em Vira-lata de raça, de Rita Lee e Beto Lee, lê-se: "Eu sou Marlon Brando vivo numa ilha/não faço papel de santo nem pra minha família/Não posso ser outra coisa senão James Dean/Eu sempre fui mais bonzinho quando sou ruim...". Esses versos da canção dos Lee diz muito mais sobre Marlon Brando do que todo o livro de Forestier. E se do texto de Forestier fossem retiradas as palavras "homossexuais", "engordar", "desejo", "nobre ferramenta"; bem com parte das inúmeras insinuações sobre questões sexuais, pouco se teria a dizer sobre Marlon Brando. É necessário deixar claro, no entanto, que ao escrever sobre um determinado assunto, o escritor, tendo em vista a exiguidade de tempo e espaço, precisa fazer um recorte para dar conta daquilo que pretende contar.
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François Forestier |
O problema é que nem sempre o recorte escolhido se mostra o melhor, ocasionando resultados indesejados aos olhos do leitor, ele para quem o livro é escrito. É o que acontece com Marlon Brando - A face sombria da beleza, de François Forestier. Isso não impede, no entanto, que o leitor possa se deleitar com uma ou outra passagem da referida obra, mantendo-se consciente de que não tem em mãos um dos melhores trabalhos sobre Marlon Brando (o homem que sabia que o amor era como olhar a Medusa nos olhos), até porque há biografias e biografias. Umas são boas, umas são maravilhosas e outras, como essa do Forestier, precisam, tal qual a Irmã Beth (p.72 e 74), de uma absolvição!
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