
O estranhamento que a obra
causa está mais na sua forma do que no seu conteúdo. Na houve, por parte da
autora, nenhuma aparente preocupação em organizar seu livro seguindo estruturas formais observáveis. E nisso a autora marca ponto, uma vez que as
ideias que expõe não merecem a clausura da forma. São ideias que precisavam ser
explicitadas em seus próprios contextos. Dessa forma, a obra de Pellegrino é
composta de crônicas e textos outros que poderiam ser considerados contos;
alguns deles podem muito bem ser identificados por aforismos, versos etc. Cada
capítulo se inicia sempre com o termo “ideia”. Assim, tem-se ideia de desejo (p.15), constituído
apenas de uma “frase”: O gato branco
arranha bolhas de sabão, texto que inicia o livro; terminando com ideia de maldição (p.159): o que você não termina, te acompanha até o
fim. Desejo e maldição são as ideias antagônicas que abrem e fecham a obra.
Ao longo do trabalho, no
entanto, observa-se o uso dos mais variados gêneros de escrita, o que faz do
trabalho de Antonia Pellegrino, uma colcha de retalhos, cabendo ao leitor fazer
as leituras que bem lhe aprouver. A experiência da autora com a tevê e o
cinema (Pellegrino adaptou para as telas, por exemplo, o livro Vale Tudo (2007), de Nelson Motta, sobre
a vida de Tim Maia) pode ser percebida, por exemplo, no texto Ideia possivelmente engraçada para seriado
de baixo orçamento (p.18-19), Ideia
para execução (p.27), quando apresenta as etapas de um “plano de negócio e
estratégia de financiamento para produção do longa metragem” ou ainda Ideia para cena de amor deixada na lixeira
da montagem (p.132-133).

O livro de Antonia
Pellegrino está por aí, entregue ao mundo para o deleite do leitor. Cama cansa, o que segura casamento é feijão,
afirma a autora, em Ideia de romantismo (p.120). Parafraseando a autora, a
forma muitas vezes cansa, o que segura uma obra é o conteúdo. No caso de Cem ideias que deram em nada, a forma
parece querer engolir o muito de conteúdo que está diluído nos textos que compõem
o trabalho, cabendo ao leitor não se deixar levar pelos estranhamentos
proporcionados pela obra, pois, muitas vezes, as nuvens brancas viajam onde ninguém nunca esteve.