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Wendy Guerra |
Alejo Carpentier,
Guillermo Cabrera Infante, Reinaldo Arenas, Pedro Juan Gutiérrez e Leonardo
Padura são alguns dos autores da literatura cubana, que são possíveis de serem
encontrados nas livrarias e sebos do Brasil. Nem todos, infelizmente, habitam
as prateleiras das nossas universidades; o que não causa surpresa, uma vez que
até determinados autores nacionais, como Carolina de Jesus, por exemplo, ainda
são invisíveis para muitos dos nossos leitores.
E se voltarmos os olhos
para as escritoras cubanas, muito pouco ou quase nada se conhece por aqui. Não
que elas não existam, mas que por inúmeras razões sua literatura ainda não
chega ao Brasil como, por exemplo, já chegaram autoras como a moçambicana
Paulina Chiziane.

O primeiro romance de
Wendy Guerra chama-se Todos se vão,
de 2006, publicado no Brasil no ano de 2011. Além desse, também nos chama a
atenção as narrativas Nunca fui
primeira-dama (2008) e Posar nua em
Havana (2011), publicados no Brasil, respectivamente, nos anos de 2010 e
2012. Os dois primeiros foram traduzidos por Josely Vianna Baptista, enquanto a
tradução do terceiro foi feita por José Rubens Siqueira. Os três livros em
questão foram publicados pelo selo Benvirá. No ano de 2013, Guerra publicou
pela editora Anagrama o livro Negra, ainda
sem tradução para o português brasileiro.

O hábito de escrever
diários na infância, acabou contribuindo para que Wendy Guerra recorresse a
esse gênero de escrita como forma de estruturar algumas das suas narrativas,
como é o caso do romance Todos se vão; narrativa
que pode muito bem ser compreendida como uma espécie de microcosmo de uma
situação mais ampla, naquilo que diz respeito às questões de organização
política e social, bem como de comportamento e relações entre as pessoas. Seria
o universo da personagem Nieve uma alegoria da Cuba de Wendy? Como se assumir
em uma sociedade na qual as opções de vida se resumem a ter que “atirar bem” ou
“fugir”, correndo o risco de passar pela humilhação dos chamados “atos de
repúdio”? Embora o cenário político-social descrito pela personagem Nieve seja
de causar indignação e terror, ele não se diferencia em muito daquilo que
ocorre na realidade, em outros países, como o Brasil, por exemplo.

Se todo grande escritor tem preocupações e acalenta sonhos, o de Wendy Guerra é provavelmente, registrar, na sua
literatura, o sentimento humano. Mesmo o constrangimento absoluto do silêncio do
seu país em relação ao seu trabalho não a faz menor. E já que “não existe”
mesmo em Cuba, Wendy vai vivendo sua vida e as mais outras vidas que desejar, em
outros mundos, em novas obras; pois bem sabe ela que de uma forma ou outra, mais
cedo ou mais tarde, todos se vão. E o que restará? A memória, os registros, a
história e as palavras. Nada mais.