quarta-feira, 7 de setembro de 2016

UIVO - GRAPHIC NOVEL

A permanência de um texto literário  ao longo do tempo se dá como resultado da qualidade do próprio texto, assim como o impacto que causa no leitor.  Não é preciso "divagar" muito para se deduzir que é isso o que acontece como o poema Uivo (1956), de Allen Ginsberg (1926 - 1997). Trata-se de um texto de extrema qualidade poética, que beira o profético ao apontar sua metralhadora giratória da palavra em direção à sociedade excludente norte-americana. Certamente que ninguém aponta um poema para o coração do sistema, e sai impunemente. As sucessivas tentativas de censura e criminalização não forma suficientes para impedir que Uivo se tornasse um dos poemas mais lidos do século XX. E não nos parece exagero afirmar, que continuará sendo lido por seguidas gerações por todo o século XXI  e enquanto existir um leitor e um texto.

Os textos dos autores da Geração Beat não foram concebidos para caber bonitinhos na forma tradicional do livro. Os beatniks sabiam que nem eles, nem suas obras nasceram para se tornar peças canônicas de uma estrutura literária limitada. Os avanços tecnológicos e as inúmeras propostas multimodais surgidas a partir deles possibilitaram um gama de inovações que facilitaram a apresentação de um texto literário, pensado antigamente para caber no livro impresso, em diversos outros suportes e abordagens. Daí, um poema como Uivo, poder ser disponibilizado em formato de longa-metragem ou de graphic novel, por exemplo.

E é isso que faz Eric Drooker ao criar os quadros da animação do longa Uivo (2010)dirigido por Rob Epstein e Jeffrey Friedman, tendo sido publicado no Brasil, como graphic novel, no ano de 2012, pela editora Globo, tendo sido traduzido por Luis Dolhnikoff. A  graphic novel de Drooker traz uma introdução, seguida dos capítulos "Quem" (I), "Moloch" (II), "Rockland" (III) e "Nota de rodapé a Uivo" (IV); além de notas de tradução (p. 220 - 221) e agradecimentos do autor aos que contribuíram com o trabalho (p.222).  Eric Drooker já havia colaborado com Ginsberg no livro Illuminated Poems (1996). Fotos de Ginsberg e Drooker ilustram a primeira contracapa (foto de Ken Taranto), a página 223 ( foto de Denise Keim) e a segunda contracapa (foto de Steven Taylor).

Sobre Allen Ginsberg, convém ressaltarmos o que afirma Bob Dylan, quando diz: "Ginsberg é ao mesmo tempo trágico e enérgico, um gênio lírico e um antagonista extraordinário, provavelmente a maior influência individual na dicção poética norte-americana desde Whitman". Tá dito.

A graphic novel, de Eric Drooker não é ambiciosa e, certamente deixa escapar muito da caudalosidade poética do autor de A balada dos esqueletos (1995). Contudo, o autor sabe muito bem da árdua tarefa que seria dar conta de um texto que é só lâmina. Sua leitura, no entanto, contribui para que, posto no suporte da graphic novel, o poema de Ginsberg possa alcançar outro tipo de leitor, se perpetuando assim, atemporalmente.

Para saber mais:

http://www.drooker.com/graphic-novels 

https://en.wikipedia.org/wiki/Allen_Ginsberg


Nenhum comentário:

Postar um comentário