sábado, 21 de janeiro de 2017

COLEÇÃO AIRTON QUEIROZ: O LIVRO

A aquisição de obras arte no Brasil (mas não só no Brasil) costuma ser usada para muitos fins, entre eles a lavagem de dinheiro. Assim sendo, muitas obras são mantidas reféns, penduradas nas paredes de uns poucos privilegiados. Tais obras jamais serão expostas, não podendo ser apreciadas por outros que não sejam os amigos íntimos dos proprietários. Isso sem falarmos naquelas obras, principalmente esculturas do período colonial, que têm desaparecido “misteriosamente” de algumas igrejas Brasil afora, sem que nunca mais se tenha notícias delas.

Outro viés dessa questão diz respeito aos acervos que estão em museus públicos, sofrendo, quase sempre, o desgaste da falta de restauro, aliada ao descaso dos governos para com a coisa pública. Poucas são as exceções nesse sentido. É claro que o Brasil ainda se ressente de políticas públicas que deitem olhos sobre a cultura, em geral, e a arte brasileira, em específico. Enquanto isso não se der de maneira séria e efetiva, muito pouco ou quase nada mudará neste cenário. Há, por outro lado, alguns colecionadores que compreendem muito bem os prazeres do ato de colecionar arte e sabem que esse prazer se torna ainda maior, quando seus itens podem ser apreciados por outros colecionadores, estudiosos e críticos ; bem como pelo cidadão comum. É por esse caminho que Airton Queiroz tem enveredado, proporcionando à cidade de Fortaleza e, obviamente ao Brasil, a oportunidade de apreciar o melhor da arte, presente na sua rica coleção.

A presente resenha, no entanto, não objetiva discutir pormenorizadamente tais questões. A intenção aqui é proceder a uma breve apresentação do livro de arte Coleção Airton Queiroz, publicado pela editora Pinakotheke, no ano de 2016, sob a organização de Camila Perlingeiro. A publicação da referida obra se dá ao mesmo tempo em que o chanceler Airton Queiroz expõe sua coleção particular, no Espaço Cultural Unifor, da Universidade de Fortaleza, no Ceará. A exposição conta com mais de 250 trabalhos, contendo obras raríssimas de artistas como Frans Post, Rugendas, Debret, Aleijadinho, Chagall, Tarsila do Amaral e Anita Malfatti; entre inúmeros outros. Contudo, não discorreremos sobre a exposição especificamente, mas sobre o livro em si, uma vez que uma publicação nesses moldes é de extrema relevância para se mapear a localização de obras tão singulares.

O livro abre com um texto do colecionador Airton Queiroz, denominado de “A arte de colecionar arte” (p.23), seguido da apresentação feita por Max Perlingeiro (p. 25- 27). Na sequência, tem-se “A história de uma coleção” (p. 29 – 59), de José Roberto Teixeira Leite, seguido do texto “Arte moderna e contemporânea na coleção Airton Queiroz” (p. 61 – 109), de Fábio Magalhães.

Ao todo, o livro de arte Coleção Airton Queiroz conta com 444 páginas. A página 412 traz notas explicativas de Pedro Corrêa do Lago. Da página 413 até 441 tem-se a versão em inglês dos textos do livro. A publicação lista, ao todo, 250 obras de 115 artistas, sendo 24 estrangeiros. Em uma tentativa de se mostrar didático, o livro está organizado por períodos históricos, situando os artistas e as obras da Coleção em seus respectivos tempos e espaços.

Mulher  sentada, de Fernando Botero.
A coleção começa com o século XVII, com obras de dois artistas: Albert Eckhout e Frans Post. Do século XVIII, Aleijadinho. Do século XIX são vinte e três artistas. Neste bloco, no entanto, nos chama a atenção a presença de Raimundo Cela, que comparece com sete obras, mas que não deveria, a nosso ver, está listado como sendo do século XIX. O bloco dedicado ao Modernismo contém vinte e três, dos mais representativos artistas do período. Na sequência, tem-se o bloco “Abstração” (p.291), sob o qual estão albergados os artistas ligados aos grupos: Atelier Abstração, Grupo Ruptura e Concretismo, Grupo Frente e Neoconcretismo, Abstração Informal, Arte Cinética e Artistas geométricos não vinculados a grupos; somando ao todo vinte e cinco artistas. O bloco seguinte é dedicado à Arte contemporânea (p. 347), contando dezessete artistas. Por fim, tem-se o bloco intitulado “Presença Estrangeira”, constituído por vinte e quatro artistas. Entre eles: Chagall, Botero, Renoir, Monet, Matisse, Dalí e Diego Rivera; entre muitos outros.

A coleção Airton Queiroz é de imenso valor, constituindo-se referência para as artes no Brasil. A publicação do livro, com o detalhamento das obras da Coleção vem se estabelecer como fonte de pesquisa e referência bibliográfica para pesquisadores, estudiosos e amantes da arte. A iniciativa de Airton Queiroz é louvável, tendo em vista que, cada vez mais, o Brasil carece de trabalhos desse porte. De leitura indispensável, o livro em questão já nasce referencial, vindo preencher uma lacuna na bibliografia das artes plásticas no Brasil.

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Serviço:
O livro está à venda no hall do Espaço Cultural Unifor. 

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