domingo, 19 de fevereiro de 2017

PRÊMIO SESC/DF DE CRÔNICAS RUBEM BRAGA

A crônica é um mundo. Por suas linhas, construções e proposições é possível erigir inúmeros universos, paralelos ou não, capazes de trazer à tona a cotidianidade, as memórias e os lirismos que nos constituem enquanto seres humanos. Sem sombra de dúvida, Rubem Braga é, no Brasil, a principal referência quando se trata da boa e velha forma de discorrer sobre os mais variados assuntos de maneira leve e agradável. Estão aí os cronistas de viagem do período da conquista do Brasil, que não nos deixam mentir. Embora eles mentissem muito, digo, inventassem muito.

E eis que passado tanto tempo, aquela que já foi tida como “a prima pobre da literatura”, deixou de ser cativa dos jornais, passando a ocupar livros e, mais recentemente, as páginas da Internet. Nesse contexto, ressaltamos a importância dos concursos e prêmios que têm aberto espaço para a publicação do gênero crônica que, embora tenha sido perenizado por autores como Bandeira, Drummond, Braga, Lispector e Paulo Mendes Campos; por exemplo, ainda se ressente de uma compreensão crítica que o conceba como um tipo de escritura que vai muito além do “rés do chão”, expressão cunhada por Antonio Cândido, nosso crítico maior.

Dessa forma, é com grande satisfação que damos a conhecer a publicação da coletânea de crônicas trazidas a público pelo Serviço Social do Comércio do Distrito Federal – SESC/DF. Trata-se do Prêmio SESC de Crônicas – Rubem Braga, cuja publicação saiu no ano de 2016, como resultado do concurso realizado em 2015. O concurso premiou os três primeiros colocados. A coletânea, no entanto, contempla em sua publicação as quinze melhores crônicas inscritas. A banca responsável por julgar os trabalhos foi composta pelos seguintes nomes: José Santiago Naud, João Carlos Taveira, Rosângela Vieira Rocha, Roberto Klotz e Danilo Carlos Gomes (p. 69- 71). A edição é constituída de setenta e duas páginas, com apresentação do Presidente do Conselho Regional do SESC – DF, Adelmir Santana. O Prêmio é, obviamente, uma homenagem ao cronista Rubem Braga.

A crônica vencedora da referida edição chama-se “Óculos Ray-Ban” (p. 9 – 11), de Tiago Germano. “A maior distância do mundo fica entre duas estações” (p. 13 – 15), de Flávio de Sousa ficou em segundo lugar. Alexandre Arbex Valadares ocupa a terceira colocação com a crônica “Finados” (p. 17 – 19). Na sequência, tem-se “A igreja e o sobrado” (p. 20 – 23), de Carlos Carvalho; “Um galo que canta” (p. 25 – 27), de Ângela Gasparetto; “Memória de elefante em 10 dias” (p. 29 – 31), de Gisele Lourenço; “O primo sabichão” (p. 33 – 35), de Gustavo Albuquerque Machado; “Todas as manhãs do mundo” (p. 37 – 40), de Ana Paula Vieira de Moraes; “O mungunzá de Dona Vanda” (p. 41 – 43), de Edgar Borges; “Quem não tem gato... Caça com peixe” (p. 45 – 47), de Cácia Leal; “Os caminhos do meu pai” (p. 49 – 51), de Diana Alencar; “Janelas pintadas de azul” (p. 53 – 55), de Lila Maia; “Sobre milagres e espetáculos” (p. 57 – 59), de Karla Celene Campos; “Missioneiro Fake” (p. 61 – 63), de Athos Ronaldo Miralha da Cunha e “Não nasci comendo alface” (p. 65 – 67), de Ana Cristina Passarella Brêtas.  

As crônicas contempladas na edição 2015 do Prêmio SESC de Crônicas – Rubem Braga nos chamam atenção para a alta qualidade da crônica produzida no Brasil, a partir dos cronistas naturais dos mais diferentes pontos do país. Nos referidos textos, percebe-se a mestria na maneira como esses autores lidam com o fazer literário, trazendo para suas narrativas aspectos que são, ao mesmo tempo, tão locais quanto universais.

Assim sendo, ressaltamos mais uma vez a importância de iniciativas como a do SESC/DF, uma vez que contribuem para a democratização de autores e obras que precisam ser conhecidos, lidos e compartilhados cada vez mais.

domingo, 12 de fevereiro de 2017

MENINAS, DO ZIRALDO

Ziraldo em Fortaleza em janeiro de 2017.
Foto: Geórgia Cavalcante Carvalho.
  Para Clarice Carvalho, que cresceu lendo Ziraldo.

Ziraldo é o responsável por ter, ao longo de toda sua vida, atiçado a imaginação de crianças de todas as idades mundo afora. Em uma ida aos seus lançamentos nos dias de hoje, percebe-se uma alegria geral naqueles que madrugam para conseguir uma senha para falar com ele por alguns minutos e sair de lá com uma bela dedicatória naquele livrinho companheiro e amigo de estimação. Mas não são apenas os pirralhos a madrugar, não. Há também menina, meninamoça, jovens, velhos e adultos. Em resumo: todo tipo de criança.


É enorme a contribuição de Ziraldo para o desenvolvimento da leitura no Brasil. Se cada criança, nos mais distantes municípios brasileiros, tivesse a felicidade de entrar em contato com um dos livros do Ziraldo, certamente que tudo por aqui seria muito diferente. Positivamente diferente. São incontáveis, infelizmente, as localidades que não possuem bibliotecas e que o acesso a leitura depende da boa vontade de um professor. Tamanho desrespeito resulta  no que temos visto no dia a dia, nos lares, nas ruas, nas redes sociais.

Mas o objetivo da presente resenha é trocarmos uma ou duas palavras sobre o mais recente lançamento do Ziraldo. Tratamos, obviamente, do livro Meninas, publicado no ano de 2016, pela editora Melhoramentos. O livro tem 45 páginas, com desenhos de Ziraldo e cores de Renato Aroeira. Para promover o lançamento do Meninas, Ziraldo tem viajado o Brasil, participando de tardes/noites de autógrafo em livrarias da rede Saraiva, por exemplo. Com sua presença, o “furdunço” é sempre o mesmo. Todos querem chegar perto do pai do Menino Maluquinho. Inclusive esse blogueiro que vos fala. Quando o vimos, teve até uma criança, já idosa, que perguntou ao Ziraldo, vejam vocês, se ele teria ali alguma coisa do Pasquim.

Na apresentação do livro Meninas, intitulada “Conversa de começo de livro”, Ziraldo explica como surgiu a ideia de escrever um livro sobre meninas. Ele afirma que, em um dos muitos encontros que promove com crianças e professores, uma menina o questionou da razão dele só escrever sobre meninos e nunca sobre meninas. Ziraldo respondeu, afirmando que isso se dava, tendo em vista ele entendia mais sobre meninos do que sobre meninas. Embora tenha fingido acreditar, é claro que a menina “perguntadeira” não se mostrou convencida da resposta dada, pedindo, mesmo assim, que o autor do Flicts (1969) escrevesse uma história sobre meninas. Como forma de atender a leitora maluquinha, Ziraldo escreveu Menina das Estrelas, publicado primeiramente no ano de 2007.

Partindo das observações de Alice, uma de suas netas, e da coleção de Alice no País das Maravilhas que ela possui, Ziraldo decidiu escrever um livro que pudesse “explicar a menina”. Contudo, tudo já foi dito sobre a menina, afirma Ziraldo: 

Tudo já foi dito sobre a menina, esse pequeno ser de tão curta permanência em nossas vidas que, ao final do seu tempo, se divide em duas e, juntas, seguem em frente para desmentir quem afirma que dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo. (ZIRALDO, 2016:05)

O lirismo observado na passagem citada é mantido ao longo de toda a narrativa de Meninas, constituindo um dos pontos altos de todo o livro. A história que Ziraldo nos conta, já de início é esclarecedora ao afirmar que: “O mundo é dos meninos. Mas não são eles que mandam no mundo”.

As histórias que Ziraldo nos conta, como o faz em Meninas, germinam nas nossas cabeças de criança e vão crescendo com a gente. Dessa forma, mesmo chegando ao final elas nunca terminam, pois são sempre um constante recomeçar; um eterno Era uma vez...


Em tempo: Clarice, minha menina, realizou o sonho de conhecer o Ziraldo. Ganhou até dedicatória.