Ao contrário do que muita
gente pensa, escrever para criança é uma das tarefas mais delicadas a qual um
escritor possa se entregar. As exigências são inúmeras e, nenhuma delas,
compreende como obrigação que aquele que escreva para a pivetada deva ser pai,
mãe, tio ou outro parente qualquer devotado a fazer a criançada feliz.
Certamente que se essa aproximação existe, muito melhor para o escritor(a),
pois terá certa facilidade em transpor para o papel algo que conhece de perto.
O que um autor de
histórias infantis precisa, na verdade, é ter muita imaginação, criatividade e
tentar pensar como uma criança. Se sua infância contribuiu para que ele, o
autor, tenha vivenciado aventuras em perigosas florestas, corridas de carros
com perseguições, fugas inimagináveis de ilhas repletas de piratas, viagens no
tempo ou coisas tão interessantes quanto, ai já se tem meio caminho andado. Agora,
passar tudo isso para o papel já são outros quinhentos, pois produzir
literatura infantil é uma atividade de alto risco, tendo em vista que o cliente
é extremamente exigente. Triste do autor de histórias infantis que achar que
pode, com meia dúzia de palavras, ludibriar o coração e a mente de uma criança.
A literatura infantil, no
Brasil, é devedora de respeito e eterno agradecimento a pelo menos dois grandes
mestres: Ziraldo e Mauricio de Sousa. É claro que entre Flicts, Menino maluquinho e
Turma da Mônica, muita água já rolou
por debaixo da ponte das histórias infantis produzidas no país. Mesmo assim,
esses trabalhos continuam como referências clássicas, encantando uma geração
após a outra. E o que fizeram Ziraldo e Mauricio de Sousa para alcançar esse
estágio? Os dois grandes autores aprenderam como encantar o coração de uma
criança, passando a contar histórias que fazem com que o pequeno leitor acesse
mundos diferentes sem precisar sair do sofá.
Na Inglaterra tem outro
mágico encantador de crianças que, tal qual Ziraldo e Mauricio de Sousa, sabe
muito bem como hipnotizar uma criança, contando uma bela história. Neil Gaiman é,
sem sombra de dúvidas, um dos maiores contadores de histórias da atualidade.
Suas histórias (como a Menina iluminada,
por exemplo), aliadas aos traços dos profissionais com quem tem trabalhado,
formam a mais perfeita tradução do que deva ser a constituição de uma história
infantil. Mas, voltando ao hemisfério sul, percebemos uma nova geração de
autores que em praticamente nada deixam a dever aos grandes mestres das
histórias infantis.
Da Argentina, por
exemplo, e já devidamente traduzido para o português brasileiro e ditado pela
SUR Livro, tem-se a “Coleção Antiprincesas”, que traz um proposta diferenciada
ao transformar em história infantil a biografia de grandes nomes da História. Dessa
forma, de maneira bastante didática, a criança pode entrar em contato com a
história de vida de Júlio Cortázar, Violeta Parra, Clarice Lispector e Frida Kahlo,
por exemplo. As histórias são, como já se diz na capa dos livros, “para meninos
e meninas”. Um bom exemplo do que afirmamos, é o livro Frida Kahlo para meninos e meninas (2015), com história de Nadia Fink e ilustrações de Pitu Saá.
Do Brasil, gostaria de
chamar a atenção para o trabalho de André Neves, especificamente uma história
maravilhosa chamada Lino, de 2010,
com reimpressão em 2013. Em Lino,
Neves é ao mesmo tempo o autor do texto e das ilustrações. O referido trabalho
foi publicado pela editora Callis, passando a compor a Coleção Itaú de livros
infantis. Trata-se da história de amizade entre o porco Lino e a coelha Lua. Sem
mais spoilers para o momento. A história
de André Neves é mágica pura!
De leitura imperdível,
chamo a atenção para Revirando meu guarda
roupa (2017), de Fernanda de Façanha. O trabalho foi publicado pela editora
Caminhar e foi ilustrado por Eduardo Azevedo. A história que Fernanda conta parte
daquelas coisas que todos nós guardamos em algum cantinho das nossas memórias,
como as brincadeiras vivenciadas na infância, quando arriscamos nossos
primeiros voos.
A autora afirma que “amigos
são como tesouros. Eles estão gravados nas roupas e são lembrados no coração de
quem viveu intensamente esses momentos de descobertas, desafios e aprendizagem”.
Por aí, temos uma ideia de como se dará a narrativa. Saber e viver é o lema,
nos diz a autora.
Os livros e autores que
apresentamos aqui, nessa brevíssima resenha, não constituem nem um milésimo do
que se produz de literatura infantil mundo afora. E nem é essa nossa pretensão.
São, na verdade, apenas algumas das nossas leituras nesse campo. Ficam aqui,
então, as dicas da boa literatura infantil que tem sido produzida por aí.
Grande abraço!