Toda sociedade, por ser
composta pelos mais variados elementos do humano, apresenta uma ampla
diversidade de comportamentos, costumes e viveres. Todo período histórico, por
sua vez, incide sobre os elementos constituintes das sociedades. Como cada um desses elementos irá reagir aos
impactos desse tempo histórico consiste quase sempre numa incógnita. Byung-Chul
Han, já na abertura da primeira parte do
seu livro Sociedade do cansaço (2017)
diz: “Cada época possuiu suas enfermidades fundamentais. Desse modo, temos uma
época bacteriológica, que chegou ao seu fim com a descoberta dos antibióticos”.
É assim que o autor abre o capítulo primeiro, denominado de “A violência
neuronal”.
O trabalho está
organizado em sete partes, a saber: “A violência neuronal” (p. 7-21), “Além da
sociedade disciplinar” (p. 23-30), “O tédio profundo” (p. 31-37), “Vita activa”
(p. 40-50), “Pedagogia do ver” (p. 51-58), “O caso Bartleby” (p. 59-68) e “Sociedade
do cansaço” (p. 70-78). Há ainda os nexos: “Sociedade do esgotamento” (p.79-109)
e “Tempo de celebração – a festa numa época sem celebração” (p. 109 – 128).
Byung-Chul Han é um
filósofo contemporâneo que tem se dedicado a pesquisar a sociedade atual. Entre
seus trabalhos mais reconhecidos estão Sociedade
da transparência, Agonia de Eros
e Topologia da Violência. Todos esses
trabalhos foram publicados no Brasil, no ano de 2017, pela editora Vozes. Se Guy
Debord já havia se debruçado sobre a Sociedade
do Espetáculo (1967) e Mario Vargas Llosa, posteriormente, discorrera sobre
aquilo que chama de Civilização do
espetáculo: uma radiografia do nosso tempo e da nossa cultura (2012), eis
que Byung-Chul Han resolveu deitar olhos sobre a sociedade que tem sido marcada
pela presença do cansaço.
Dessa forma, a síndrome
de Burnout tem se tornado algoz de homens e mulheres que vivem sob a pressão do desempenho. Para o filósofo,
a síndrome de Burnout não expressa o si-mesmo,
mas antes a alma consumida. E assim sendo, assiste-se à expansão de doenças
como a depressão, resultante, muitas vezes, das imposições, pressões e
proibições impostas pela sociedade disciplinar. Para Han, o que torna o ser
humano contemporâneo doente, na realidade, não é o excesso de responsabilidade
e iniciativa, mas o imperativo do desempenho como um novo mandato da sociedade pós-moderna do trabalho. A depressão, continua
ele, é o adoecimento de uma sociedade que sofre sob o excesso de positividade.
Reflete aquela humanidade que está em guerra consigo mesma, ou seja:
O sujeito de desempenho está livre
da instância externa de domínio que o obriga a trabalhar ou que poderia explorá-lo.
É senhor e soberano de si mesmo. Assim, não está submisso a ninguém ou está
submisso apenas a si mesmo. É nisso que
ele se distingue do sujeito de obediência. A queda da instância dominadora não
leva à liberdade. Ao contrário, faz com que liberdade e coação coincidam. Assim,
o sujeito de desempenho se entrega à liberdade
coercitiva ou à livre coerção de
maximizar o desempenho. O excesso de trabalho e desempenho agudiza-se numa
autoexploração. Essa é mais eficiente que uma exploração do outro, pois caminha
de mãos dadas com o sentimento de liberdade. O explorador é ao mesmo tempo o
explorado. Agressor e vítima não podem mais ser distinguidos. Essa
autoreferencialidade gera uma liberdade geral uma liberdade paradoxal que, em
virtude das estruturas coercitivas que lhe são inerentes, se transforma em
violência. Os adoecimentos psíquicos da sociedade de desempenho são
precisamente as manifestações patológicas dessa liberdade paradoxal. (HAN,
2017, P. 29-30)
Byung-Chul Han |
O ser humano contemporâneo
é, ao mesmo tempo, agressor e vítima de uma situação que não apenas a
sociedade, mas ele mesmo impõe. Essa situação de aporia na qual estamos todos
inseridos nos obriga a “mostrar serviço” e produzir sempre e cada vez mais,
para alimentar a máquina da sociedade do desempenho. O resultado, obviamente,
não poderia ser outro senão o adoecimento. É sobre essa questão e muitas outras
coisas que Byung-Chul Han trata em Sociedade
do cansaço. A edição da qual tratamos aqui é de 2017, publicada pela Editora
Vozes, com tradução de Enio Paulo Giachini.
Nenhum comentário:
Postar um comentário