domingo, 15 de julho de 2018

SOCIEDADE DO CANSAÇO, DE BYUNG-CHUL HAN


Toda sociedade, por ser composta pelos mais variados elementos do humano, apresenta uma ampla diversidade de comportamentos, costumes e viveres. Todo período histórico, por sua vez, incide sobre os elementos constituintes das sociedades. Como  cada um desses elementos irá reagir aos impactos desse tempo histórico consiste quase sempre numa incógnita. Byung-Chul Han,  já na abertura da primeira parte do seu livro Sociedade do cansaço (2017) diz: “Cada época possuiu suas enfermidades fundamentais. Desse modo, temos uma época bacteriológica, que chegou ao seu fim com a descoberta dos antibióticos”. É assim que o autor abre o capítulo primeiro, denominado de “A violência neuronal”.

O trabalho está organizado em sete partes, a saber: “A violência neuronal” (p. 7-21), “Além da sociedade disciplinar” (p. 23-30), “O tédio profundo” (p. 31-37), “Vita activa” (p. 40-50), “Pedagogia do ver” (p. 51-58), “O caso Bartleby” (p. 59-68) e “Sociedade do cansaço” (p. 70-78). Há ainda os nexos: “Sociedade do esgotamento” (p.79-109) e “Tempo de celebração – a festa numa época sem celebração” (p. 109 – 128).

Byung-Chul Han é um filósofo contemporâneo que tem se dedicado a pesquisar a sociedade atual. Entre seus trabalhos mais reconhecidos estão Sociedade da transparência, Agonia de Eros e Topologia da Violência. Todos esses trabalhos foram publicados no Brasil, no ano de 2017, pela editora Vozes. Se Guy Debord já havia se debruçado sobre a Sociedade do Espetáculo (1967) e Mario Vargas Llosa, posteriormente, discorrera sobre aquilo que chama de Civilização do espetáculo: uma radiografia do nosso tempo e da nossa cultura (2012), eis que Byung-Chul Han resolveu deitar olhos sobre a sociedade que tem sido marcada pela presença do cansaço.

Dessa forma, a síndrome de Burnout tem se tornado algoz de homens e mulheres que vivem sob a pressão do desempenho. Para o filósofo, a síndrome de Burnout não expressa o si-mesmo, mas antes a alma consumida. E assim sendo, assiste-se à expansão de doenças como a depressão, resultante, muitas vezes, das imposições, pressões e proibições impostas pela sociedade disciplinar. Para Han, o que torna o ser humano contemporâneo doente, na realidade, não é o excesso de responsabilidade e iniciativa, mas o imperativo do desempenho como um novo mandato da sociedade pós-moderna do trabalho. A depressão, continua ele, é o adoecimento de uma sociedade que sofre sob o excesso de positividade. Reflete aquela humanidade que está em guerra consigo mesma, ou seja:

O sujeito de desempenho está livre da instância externa de domínio que o obriga a trabalhar ou que poderia explorá-lo. É senhor e soberano de si mesmo. Assim, não está submisso a ninguém ou está submisso apenas a si mesmo. É  nisso que ele se distingue do sujeito de obediência. A queda da instância dominadora não leva à liberdade. Ao contrário, faz com que liberdade e coação coincidam. Assim, o sujeito de desempenho se entrega à liberdade coercitiva ou à livre coerção de maximizar o desempenho. O excesso de trabalho e desempenho agudiza-se numa autoexploração. Essa é mais eficiente que uma exploração do outro, pois caminha de mãos dadas com o sentimento de liberdade. O explorador é ao mesmo tempo o explorado. Agressor e vítima não podem mais ser distinguidos. Essa autoreferencialidade gera uma liberdade geral uma liberdade paradoxal que, em virtude das estruturas coercitivas que lhe são inerentes, se transforma em violência. Os adoecimentos psíquicos da sociedade de desempenho são precisamente as manifestações patológicas dessa liberdade paradoxal. (HAN, 2017, P. 29-30)


Byung-Chul Han

O ser humano contemporâneo é, ao mesmo tempo, agressor e vítima de uma situação que não apenas a sociedade, mas ele mesmo impõe. Essa situação de aporia na qual estamos todos inseridos nos obriga a “mostrar serviço” e produzir sempre e cada vez mais, para alimentar a máquina da sociedade do desempenho. O resultado, obviamente, não poderia ser outro senão o adoecimento. É sobre essa questão e muitas outras coisas que Byung-Chul Han trata em Sociedade do cansaço. A edição da qual tratamos aqui é de 2017, publicada pela Editora Vozes, com tradução de Enio Paulo Giachini.



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