Já circulava em português
brasileiro algumas traduções esparsas da obra de Audre Lorde (1934-1992) e Pat Parker
(1944-1989). No entanto, só recente mente é que se começou a traduzir e
publicar os trabalhos de Audre Lorde de forma mais efetiva. Entre vários já
publicados tem-se o Sister outsider: essays & speeches, de 1984,
considerado seu trabalho em prosa mais importante. No caso de Parker, o mercado
editorial brasileiro ainda não atentou para a falta de traduções da obra desta,
que é uma das mais importantes escritoras do século XX. Na postagem que se
segue, no entanto, não falaremos sobre a obra de Lorde nem de Parker, mas das
cartas que ambas trocaram no período de 1974 até 1989.
Sem tradução no Brasil, a
obra chama-se Sister Love: The Letters of Audre Lorde and Pat Parker,
publicada pela Sapphic Classics, no ano de 2018. A referida publicação só foi
possível devido ao apoio da filha de Parker, Anastasia Dunham-Parker-Brady e de
Elizabeth Lorde-Rollins e Jonathan Rollins, herdeiros de Lorde. O livro conta
com uma introdução de Mecca Jamilah Sullivan, e edição de Julie R. Enszer.
Sobre como surgiu a ideia da publicação das cartas das duas poetas, procedemos
à uma tradução livre daquilo que diz a editora. Tem-se:
Quando encontrei
pessoalmente Marty Dunham (já tínhamos trocado e-mails), ela me falou sobre as
cartas entre Pat Parker e Audre Lorde. Ela disse que se tratava de uma
correspondência linda e que parte das cartas tinha sido lida em alguns eventos
em homenagem a Parker e Lorde. Fiquei intrigada. Na ocasião, ela não tinha
cópias para que eu pudesse ler. Dois anos depois, volteia a San Francisco, para
ajudar Marty a organizar o material de Parker para a Biblioteca Schlesinger e
para a pesquisa de preparação para a obra completa de Parker (The Complete
Works of Pat Parker). Uma das primeiras coisas que fiz foi ler essas cartas.
Eram mágicas. Encantadoras. Hipnotizantes. Estas cartas apresentam a
oportunidade para que os leitores possam vislumbrar os corações e mentes de
duas extraordinárias e talentosas poetas e escritoras. Tem sido um enorme
prazer dedicar tempo à essas cartas e editá-las neste livro.
Parker e Lorde se
encontraram pela primeira vez em 1969, quando Lorde fazia um tour literário
pela Costa Oeste. Wendy Cadden, artista gráfica e membra do Women’s Press
Colective, as apresentou. Lorde tinha 35 anos de idade (nascida em 18 de
fevereiro de 1934) e Parker tinha 25 (nascida em 20 de janeiro de 1974). As 26
cartas dessa correspondência (27 ao todo, pois há uma última carta, de Lorde
para Marty Dunham) começam em outubro de 1974 após outra visita de Lorde à
Costa Oeste. A amizade de vinte e seis anos entre Parker e Lorde, que se conclui
com a morte de Parker, cobre os anos mais produtivos da produção poética e
intelectual das duas autoras.
Uma indicação da força da
amizade das duas poetas é a dedicatória de trabalhos de uma para a outra. O
poema de Parker “For Audre” (The Complete Works of Pat Parker, p.177)
captura a vibração da amizade entre ambas. Lorde dedicou à Parker sua coletânea
final The Marvelous Arithmetics of Distance, publicado postumamente em
1993, com as seguintes palavras: “Para minha irmã Pat Parker, poeta e camarada-em-armas
In Memoriam”. A coletânea inclui o poema “Girlfriend” (namorada), que
também capta algo do lúdico que havia entre elas, assim como o sentido da amizade
para Lorde. Esses poemas e cartas aludem à rica amizade entre estas duas poetas.
(Tradução minha da Nota da Editora, p. 115-116).