Jeffrey Richards |
E é também sobre
questões como essas que Jeffrey Richards, professor de história da cultura na Universidade
de Lancaster, Inglaterra, discorre em seu interessante trabalho denominado de Sexo, desvio e danação: as minorias na Idade
Média, publicado no Brasil, em 1993, pela Jorge Zahar Editor, a partir da
primeira edição inglesa publicada em 1990 por Routledge. O título original do referido trabalho é Sex, Dissidence and Dannation: Minority
groups in the Middle Ages. Para desenvolver sua pesquisa, o
referido professor selecionou seis grupos a serem analisados. São eles: os judeus,
hereges, leprosos, bruxos, prostitutas e homossexuais. O livro está dividido em
oito capítulos. No primeiro, o autor faz uma abordagem histórica do contexto
medieval, enquanto no segundo, discorre sobre o sexo na Idade Média. Cada grupo
selecionado como objeto da pesquisa, constituirá cada um dos próximos seis
capítulos. Para cada capítulo, ao final do livro, há referências bibliográficas
específicas. O livro ainda conta com ricas ilustrações reproduzidas de obras
literárias e documentos religiosos. A ilustração da capa, por exemplo, é uma
imagem de O Juízo Final, de Stefan
Lochner (1400 – 1452). A edição da Zahar conta ainda com a tradução de Marco
Antonio Esteves da Rocha e Renato Aguiar e revisão técnica de Francisco José
Silva Gomes.
Sobre a obra, convém
observamos o que é dito na sua apresentação:
Para
as autoridades da Europa medieval, tanto seculares quanto eclesiásticas, a
dissensão solapava as raízes de um mundo ordenado e estabelecido. Permitir que
um único herege ou espírito livre escapasse à justa punição condenaria toda a
estrutura da sociedade à decadência e à dissolução. Assim, a dissensão deveria
ser extirpada, inicialmente através da razão e da argumentação, mas em seguida
com selvageria crescente, através da tortura
e do encarceramento, do fogo e da espada. Mas por que o perigo advindo de
uma minoria de indivíduos, geralmente pobres e desprovidos de poder, era
considerado uma ameaça tão forte e imediata?
E é exatamente sobre isso que se dá o trabalho
em questão. Tomando os grupos mencionados, Jeffrey Richards percebeu que era a
aberração sexual que os unia. Tem-se:
A
igreja buscava regular até mesmo os detalhes mais íntimos da vida humana, mas
sem muito sucesso. Algumas práticas sexuais não-oficiais poderiam ser
toleradas; mas, progressivamente, o desvio foi considerado como uma influência
maligna, não somente sobre a vida individual, mas sobre o mundo como um todo. Em
uma época e expectativa pelo segundo Advento de Cristo, esperava-se que homens
e mulheres levassem uma vida piedosa; e tudo que não fosse assim consistia um
ultraje. À medida que se consolidaram as estruturas de poder na sociedade, os
desviantes tornaram-se bodes expiatórios convenientes para todos os males de um
mundo amedrontado: invasão, fomes e doenças, particularmente a Peste Negra.
Sobre seu próprio
trabalho, Richards afirma:
Num
tempo em que a sociedade parece estar se tornando cada vez mais intolerante com
as minorias, em que todos os dias um tablóide raivoso e sem senso de medida
incita ao racismo, sexismo, chauvinismo e à homofobia, talvez seja oportuno
examinar as maneiras como as eras passadas encaravam e lidavam com as minorias
em seus meio. Não busco fazer comparações diretas e deixarei ao leitor a tarefa
de tirar as conclusões que devem ser tiradas de como a sociedade moderna difere
do seu símile medieval nesta área. O que pode ser aventurado é uma explicação
sobre a natureza, raízes, alcance e efeitos do tratamento dispensado pelas
sociedades medievais às suas minorias. (RICHARDS, 1993:11).
É Sempre tempo de ler e reler a História, para não se correr o risco de atirar no
próprio pé (ou na cabeça), uma vez que tudo que é histórico também é cíclico. Por mais que o tempo passe, algumas pessoas insistem em não querer ver o passar do tempo. Sêneca (4 a.C - 65 d.C) nos alerta, que o que urge não é a mudança de tempo, mas a mudança de mentalidade. Algumas pessoas, diz ele, existem por muito tempo, mas não vivem.
E eu, cá com meus botões, penso que é como alguém ter "vivido" a vida toda em Fortaleza sem jamais ter escutado Ednardo cantar "Longarinas" no aterro da Praia de Iracema.
E eu, cá com meus botões, penso que é como alguém ter "vivido" a vida toda em Fortaleza sem jamais ter escutado Ednardo cantar "Longarinas" no aterro da Praia de Iracema.
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