Organizado por José Gomes
Neto, começa a circular no mercado o livro Cancioneiro
Belchior (s/d), que tem como objetivo principal o estabelecimento de todas
as letras escritas pelo poeta cearense. É claro, como tem sido dito por muitos
estudiosos, a obra do compositor Belchior não cabe no conceito de “letra”, constituindo-se,
na verdade, de poesia de raro esplendor. No entanto, não é esse o objetivo do
referido Cancioneiro, mas colocar num só lugar, como dito, todas as letras
produzidas pelo autor de “Como os nossos pais”.
Há muitos trabalhos como
esse no mercado editorial brasileiro, como os de Lou Reed e Bob Dylan, por exemplo,
publicados pela Companhia das Letras. Mas ainda não tínhamos nenhum sobre a
poética de Belchior. Dessa forma, Cancioneiro Belchior vem preencher uma lacuna acerca da obra de um dos
maiores nomes da Música Popular Brasileira – MPB. Livros como o de Gomes Neto se inserem na
linha de trabalhos como Like a Rolling
Stone: Bob Dylan na encruzilhada, de Greil Marcus, Strange Fruit: Billie Holiday e a biografia de uma canção, de David
Margolick ou ainda A love supreme: the story
of John Coltrane’s signature album, de Ashley Kahn. Algumas dessas obras
deitam olhos sobre a análise interpretativa de algumas composições, o que não é
o caso de um cancioneiro que, conforme sua definição, é uma coleção de canções
ou poesias de um determinado tempo ou autor.
O trabalho que agora é
entregue ao público leitor começou a ser gestado ainda nos idos de 1980. Sobre
esse começo, convém observarmos o que diz nos diz o organizador.
Já
no início de 1980 começamos a pensar na realização do projeto. Belchior trataria de enviar-me as
letras, que deveriam ser digitadas e “trabalhadas” em meus momentos de folga acadêmica. Sempre que
tivesse espaço na apertada agenda de shows, Belchior viria a Floripa para
discutirmos e estabelecermos a versão definitiva de cada letra. Às vezes,
quando em férias ou durante as longas greves universitárias, conseguia acompanha-lo
em suas viagens, adiantando a tarefa conjunta. (GOMES NETO, s/d:47)
O Cancioneiro Belchior
está organizado em três blocos, a saber: Canções de estrada, Noutras
estradas e A voz nas estradas. No primeiro bloco foram agrupadas as
composições divulgadas em obras autorais, os chamados “discos de carreira”,
sejam elas compostas ou não em parceria. O segundo bloco, por sua vez, contém
as canções escritas por Belchior e parceiros, que, conforme, Gomes Neto,
gravaram em seus respectivos discos de carreira. No último bloco, tem-se as
composições que Belchior fez para trilha sonora de peça teatral, assim como os
trabalhos realizados com obras poéticas, como a de Carlos Drummond de Andrade (As várias caras de Drummond) e a de
Cruz e Sousa (Belchior canta Cruz e Sousa).
José Gomes Neto registra que a análise exaustiva e minuciosa de cada texto foi
realizada por ele e por Belchior, tendo começado no início de 1980 e se
estendido até 2005, com pequenos ou grandes intervalos ditados pela agenda dos
dois. O Cancioneiro Belchior conta ainda com um Índice Discográfico e um Índice
Alfabético das composições, a que se associa o verso inicial delas. O
índice geral do livro segue a seguinte ordem: Índice alfabético das letras
(p.7-16), Índice discográfico (p.17-26), Apresentação (texto de Jorge Mello,
parceiro e amigo de Belchior, p.27-40), Introdução (p.41-68), Canções da
estrada (p.69-230), Noutras estradas (p.231-258), A voz das estradas
(p.259-282).
José Gomes Neto,
respeitando os direitos dos herdeiros de Belchior, não incluiu no referido
Cancioneiro, embora, segundo ele, fosse vontade de Belchior, algumas letras
originais do poeta, tendo em vista pertencerem ao espólio que tramita na
justiça. Gomes Neto mantém essas letras sob sua guarda. Além dessas, não
constam do referido Cancioneiro, devido a questões legais, algumas poucas
letras inéditas feitas em coautoria com Belchior, sejam elas traduções ou
versões.
O Cancioneiro Belchior é, desde já, referência indispensável para
todos aqueles que se dedicam a estudar a obra poética de Belchior, bem como para
aqueles que ouvem suas canções, amam e mudam as coisas.
José Gomes Neto é também
autor de A sagração da matéria e Opivm de vidro. Atualmente prepara em
livro a correspondência que manteve com Belchior, por mais de 40 anos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário