Muitos são os escritores nascidos no Ceará. Dentre esses, alguns se tornam referências para os estudos acadêmicos, outros se tornam nomes de ruas e avenidas e outros, nem uma coisa, nem outra. O certo é que alguns são lembrados, outros esquecidos. Se para Antonio Sales a cidade criou uma avenida com seu nome, o mesmo não podemos dizer de Adolfo Caminha, que ganhou uma rua (ou seria um beco?) por onde ninguém caminha. Seria uma punição ao homem que ousou, em tempos idos, desafiar o provincianismo da sociedade fortalezense? Esperamos que não. Mas se o for, Caminha não está, temos certeza, dando a mínima para tão grande idiotice. Ao contrário, apenas vê confirmada sua opinião acerca da cidade e do seu povo.
Jáder de Carvalho é outro homem que jamais se curvou aos desmandos dos "graúdos" da sua cidade. Em troca, no entanto, teve uma vida de perseguições, tentativas de descrédito e até atentados. Nada, contudo, o impediu de ser um dos maiores poetas e jornalistas da sua época.Mas Jáder talvez não tivesse sido tudo o que foi, tudo o que representa se não tivesse tido ao seu lado, seus filhos e sua esposa, na luta diária contra a intolerância, a opressão e a covardia dos poderosos. A esposa de Jáder de Carvalho, Margarida Saboia de Carvalho, por sua vez, não tomou para si a função da dona de casa, esposa do grande escritor. Ao contrário, assumiu a função de sujeito da sua própria história, conquistando seu próprio espaço como jornalista e escritora numa sociedade marcadamente patriarcalista. E assim sendo, Margarida Saboia de Carvalho tornou-se uma das maiores cronistas do jornalismo cearense. Além de crônicas, a referida autora também escreveu contos, publicando um livro de contos denominado A Vida em Contos (1964). Conforme afirma Sânzio de Azevedo, os contos de Margarida Saboia de Carvalho se tingem frequentemente de cores algo pessimistas, com o que chegamos a pensar num Neo-Naturalismo, atento aos problemas sócio-patológicos de uma humanidade infeliz. Ela mesma, falando de suas personagens, confessou: "Não lhes inventei o destino, apenas narrei".
Ainda conforme Sânzio de Azevedo, Margarida Saboia de Carvalho militou ativamente na imprensa, quer escrevendo crônicas, quer assinando artigos sobre política, fosse no Diário do Povo, quer na Tribuna do Ceará. Após a morte da autora, no ano de 1975, uma coletânea das sua melhores crônicas foi organizada pelo prof. Sânzio de Azevedo, devidamente publicada no ano de 1976. São cem crônicas, abordando desde os temas mais pessimistas e pesados da nossa existência até as temáticas mais banais do nosso cotidiano. Contudo, ainda não há um consenso sobre a obra da autora. Para alguns, tudo o que há publicado até agora é o livro Crônicas (1976) e A Vida em Contos (1964). Conforme o Portal de História do Ceará (http://www.ceara.pro.br/cearenses/listapornomedetalhe.php?pid=32399), ela também teria publicado Entre Dedos, Santos do Céu - Santos da Terra e Imperfeição.
A verdade é que os estudos acerca da literatura de Margarida Saboia de Carvalho esbarram basicamente na falta (ou na incoerência ) de informações sobre a autora e sua obra. No que diz respeito à crônica da autora, em texto que acompanha seu conto Amanhã, às cinco horas, publicado em Uma Antologia do Conto Cearense (1965), pela Imprensa Universitária, com estudo de Braga Montenegro, diz-se que no ano de 1964 a autora teria publicado seu primeiro livro de crônicas, intitulado O Coração do Tempo. A questão é que “ninguém sabe, ninguém viu” esse livro.
Alguns críticos desconhecem totalmente sua existência, enquanto outros só ouviram falar, afirmando inclusive que o nome não seria O Coração do Tempo, mas Coração do Tempo ou Coroação do Tempo. Assim sendo, o que existe e que ainda é possível de se encontrar em sebos virtuais e bibliotecas universitárias são os já mencionados A Vida em Contos, de 1964, e Crônicas, de 1976. Embora seja quantitativamente pouco, qualitativamente é muito para se iniciar estudos sobre a obra de tão grande autora.
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