
Vivendo por quase duas décadas no Brasil, a autora produziu uma vasta correspondência que cobre as décadas de 50 e 60. Através desses escritos, é possível perceber o olhar estrangeiro, o estranhamento dos hábitos brasileiros, o governo dúbio de Vargas, bem como as transformações socioeconômicas fomentadas por Juscelino Kubitschek. Nesse sentido, as missivas de Bishop são reveladoras do comportamento tacanho da elite local. Dessa forma, a poetisa discorre sobre os mais variados assuntos, enfatizando a natureza, os imigrantes e as favelas, por exemplo. A maior parte da correspondência de Elizabeth Bishop está publicada nas coletâneas One Art (1994), Uma Arte: as cartas de Elizabeth Bishop (1995) e Words in Air: The complete correspondence between Elizabeth Bishop and Robert Lowell (2008). As cartas de Bishop com Lowell foram editadas por Thomas Travisano e Saskia Hamilton, ainda sem tradução para o português. As cartas da edição norte-americana de One Art, por sua vez, foram selecionadas e organizadas por Robert Giroux. A edição nacional de One Arte, de 1995, teve suas cartas selecionadas por Carlos Eduardo Lins e Silva e João Moreira Sales, publicada pela Companhia das Letras e traduzida por Paulo Henriques Britto.
Através da correspondência de Elizabeth Bishop é possível perceber a visão da autora sobre o modo de viver no Rio de Janeiro, bem como nas outras cidades pelas quais a poetisa passou e morou enquanto esteve no Brasil. Pelos olhos e pela pena de "dona Elizabetchy" passa toda a sorte de problemas vividos pela população brasileira. Problemas esses que vão dos mais simples aos mais complexos e que, comuns nas décadas de 50 e 60, ainda assombram o povo brasileiro geração após geração. Tratam-se de problemas culturais, políticos, educacionais e socioeconômicos, entre inúmeros outros.
Além dos problemas mencionados, as cartas de Bishop também abordam com bastante recorrência o cotidiano da própria escritora, no que concerne às suas questões pessoais, à sua produção literária e aos seus amigos e pessoas próximas.Deslocada geograficamente, mas sempre a procura de um porto, a correspondência de Elizabeth Bishop dialoga com a sua poesia, quando a poeta não se põe no centro dos acontecimentos, mas à margem, no papel de espectadora privilegiada.

A epistolografia da autora norte-americana pode ser vista como um grande mosaico de relevante importância para a compreensão do período vivido pela autora de uma das mais importantes obras do século XX. E nesse arcabouço, a produção epistolográfica de Elizabeth Bishop tem muito a contribuir com os estudos sobre o mundo em geral, e sobre o Brasil, em específico.
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