Fraseologias Jurídicas: Estudos filológico e Linguístico do Período Colonial foi publicada no ano de 2013, pela editora Appris. Trata-se do mais recente trabalho do pesquisador Expedito Ximenes, professor adjunto da Universidade Estadual do Ceará - UECE, um dos mais respeitáveis pesquisadores de documentos históricos do período colonial brasileiro. O mesmo pesquisador já havia publicado no ano de 2006 a obra Autos de Querella e Denúncia... Edição de Documentos Judiciais do Século XIX no Ceará para Estudos Filológicos, pela editora LCR.
Expedito E. Ximenes |
Embora direcionado para público interessados nos estudos de filologia e Linguística, a obra de Expedito Ximenes não impossibilita o contato de leitores leigos, tendo em vista a maneira didática usada pelo referido professor ao abordar a temática proposta.
Toda e qualquer língua possui fraseologias. Contudo, uma fraseologia típica da língua portuguesa, por exemplo, não obedece à mesma estrutura gramatical e semântica da língua inglesa; ou seja, se "bater as botas" em português tem o sentido de "morrer", o mesmo sentido pode ser afirmado em língua inglesa. No entanto, a fraseologia em língua inglesa não será uma mera tradução para essa língua da expressão citada, mas uma outra expressão idiomática (EI) com o mesmo sentido. Nesse caso, "bater as botas" com o sentido de "morrer", em inglês, é "to kick the bucket", expressão essa que, em português, não teria o mesmo sentido de "morrer", mas de desistir de algo, abandonar. Isso ocorre uma vez que o léxico de uma língua é composto de unidades para lá de heterogêneas, como bem nos lembra BIDERMAN (2001), em seu texto "Unidades complexas do léxico". Além da denominação de "fraseologia", expressões recorrentes na língua comum como "água mole em pedra dura, tanto bate até que fura" e "todo santo dia", entre inúmeras outras, também são denominadas de expressões idiomáticas, fraseologismos ou locuções; variando de autor para autor. Sobre isso, convém observarmo o que afirma Cleci Regina Bevilacqua (2005):
Para alguns autores, a fraseologia limita-se às expressões idiomáticas próprias de uma língua; outros consideram que ela inclui os provérbios, os ditados, as locuções e as lexias compostas. Há ainda quem considere que tais unidades possuam estruturas extremamente variáveis, podendo incluir palavras, grupos de palavras, locuções, expressões, orações, segmentos de frases, frases, conjunto de frases e assim por diante. Observamos, portanto, que há uma diversidade de unidades que são consideradas fraseológicas, do mesmo modo que há uma diversidade em relação a sua denominação. Contudo, apesar desse fato, os falantes nativos de uma língua sabem reconhecê-las e utilizá-las adequadamente. (BEVILACQUA, 2005:748)
O livro de Expedito Ximenes está organizado em seis capítulos. No primeiro, o autor faz algumas anotações acerca do contexto histórico luso-brasileiro do século XVII ao XIX. O segundo capítulo é dedicado aos autos de querella, contendo anotações históricas, jurídicas, sociais e culturais do Ceará no período colonial. O capítulo três, por sua vez, é dedicado especificamente à Filologia. Aqui, o autor discorre sobre a Filologia, enquanto ciência antiga, observando as inúmeras e eternas polêmicas que se dão a seu respeito. O conceito e o histórico das unidades fraseológicas são discutidos pelo pesquisador no capítulo quatro, enquanto no capítulo seguinte são descritos os passos metodológicos da pesquisa. O capítulo seis é constituídos de um glossário das unidades fraseológicas constituintes dos processos.
A obra em questão é de extrema relevância não apenas para os estudos acerca do léxico, da língua e da cultura do povo cearense, como também o é para a compreensão da história dos processos de colonização daquele Estado. Com o trabalho de Expedito Ximenes, ganham a História, a Linguística, a Filologia, a Lexicologia. Ganham, por fim, todos aqueles que devotam estudos à língua portuguesa, sabendo reconhecer um trabalho de fôlego e qualidade.
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