A expressão “de um tudo”
é bastante conhecida do povo brasileiro, significando a variedade e a
miscelânea de coisas que conseguimos unir, independentemente, do local e da
circunstância. Assim sendo, misturamos cores, frutas, estilos musicais, açaí
com tapioca, chiclete com banana. Também misturamos escritas, leituras e
literaturas. Essas misturas, guardadas as devidas proporções, das quais já nos
falava Gilberto Freyre, nos encaminharam uma realidade cultural antropofágica
que fincou suas raízes na cultura brasileira, como um todo, bem como na
literatura, de maneira mais específica.
Dessa forma, a literatura
brasileira acabou por assumir características que lhe são bastante peculiares, tornando-se
assim, uma das mais bem elaboradas do mundo. Contudo, se nossa literatura ainda
não se fez conhecer em outras paragens, deve ser devido ao descaso dos nossos
sucessivos governantes, que insistem na manutenção do nosso eterno complexo de
arlequim de província, mergulhado numa
subalternidade que nunca teve motivo de ser.
Mas nossos escritores
saem para ver o mundo e, voltando, nos contam daquilo que viram, daquilo que os
impactaram. Para tanto, alguns optam pelo romance, outras pelas narrativas breves, as imagens, o corpo, a cena. E de repente, aquilo que tanto nos pode
parecer distante e alheio aos nossos olhos se transmuta em algo que nos é
próximo, quase íntimo. E assim, percebemo-nos parte de um todo em consonância
com o mundo, com o outro, com o de um tudo.
Foi provavelmente imbuído
desse sentido, que o escritor Deribaldo Santos conseguiu capturar, por meio do
seu texto, as inúmeras partes constituintes do ser humano, não importando onde
esse ser humano vá, onde quer que ele esteja. Destarte, algumas das observações
de Santos resultaram no livro intitulado De
1 tudo (2018), publicado pela editora Corsário. Trata-se de um livro que
tem “de um tudo”, ou quase: metade do livro (12 textos, que vão da p.7 até a p.
49) são relatos de uma viagem que o autor fez ao Velho Mundo. E embora algumas
vezes o autor trate seu texto como se um diário fosse, na verdade não o é,
podendo ser melhor classificado como
“relatos de viagem” ou “crônicas de viagem”. Há, na verdade, uma mistura
de gênero no texto que nos apresenta o autor. Daí o título do livro cair como
uma luva para as narrativas que se apresentam.
O título em si, por sua vez, já é um verdadeiro poema concreto: De 1 tudo. A segunda parte do livro, denominada de “O vento mudou...” (que vai da p.51 até a p. 85) é composta por sete textos. Nesse caso, reconhecemos esses textos como crônicas, uma vez que abordam o cotidiano, o tempo, assim como as observações do narrador a respeito do ambiente que o circunda. Seja qual for a terminologia que possa ser usada para classificar os textos de Deribaldo Santos, em nada alteram a concepção poético-narrativa da sua obra, eivada de um humanismo simples e leve, que apenas os olhos maduros de um bom observador são capazes de colher.
O título em si, por sua vez, já é um verdadeiro poema concreto: De 1 tudo. A segunda parte do livro, denominada de “O vento mudou...” (que vai da p.51 até a p. 85) é composta por sete textos. Nesse caso, reconhecemos esses textos como crônicas, uma vez que abordam o cotidiano, o tempo, assim como as observações do narrador a respeito do ambiente que o circunda. Seja qual for a terminologia que possa ser usada para classificar os textos de Deribaldo Santos, em nada alteram a concepção poético-narrativa da sua obra, eivada de um humanismo simples e leve, que apenas os olhos maduros de um bom observador são capazes de colher.
Deribaldo Santos |
O início do livro
registra latitude e longitude 40º 24’ N/ 3º 42’ 2’’ W (p. 7). Ao nos
encaminharmos para o seu final, somo avisados que o vento mudou, e tem-se,
agora, latitude e longitude 03º 43’ 02’’ S/38º 32’ 35’’ W (os entendedores
entenderão!). o livro é ilustrado com fotografias do autor, parentes e amigos.
Ao final De 1 tudo, tem-se o texto “Ode à leitura: prefácios, posfácios,
fortuna crítica: distúrbios ou devaneios” (p. 86-877), do poeta-editor
Mardônio França. Lá, França discorre sobre o trabalho de Deribaldo Santos,
dizendo que “ A literatura é feita por pessoas, sejam incríveis ou menores no
ato de fazer o pão de cada dia”.
A abertura possibilitada
pela narrativa de Deribaldo Santos a aproxima da literatura que tem sido
produzida no país, permitindo ao leitor variadas interpretações. Trata-se de um
texto que oscila entre o erudito e o popular, aproximando-se, por vezes, das narrativas dos cronistas de viagem, da
poesia em prosa de base alencarina, bem como da narrativa do safado (sincero?)
Bukowski.
De leitura indispensável, De 1 tudo está rodando por aí, e o alcançará, caro leitor, não importando os braços e abraços das latitudes e longitudes que te abrigam. Boa leitura!