sábado, 1 de março de 2014

RODOLFO TEÓFILO E A SAGA DE JESUÍNO BRILHANTE

Saga é, conforme a maioria dos dicionários, uma narrativa heroica cheia de acontecimentos maravilhosos e extraordinários. Trata-se, conforme Baldick (1990), de um termo de origem nórdica usado para denominar as narrativas em prosa compostas durante a Idade Média, na Escandinávia e na Islândia por volta dos séculos XXII e XIV . É claro que com o decorrer do tempo, o termo "saga" assumiu novas significações e até ressignificações, uma vez que nem toda saga aponta para feitos escandinavos nem tem que ser permeada de acontecimentos maravilhosos e extraordinários se tomarmos ambas as palavras ao pé da letra, principalmente no contexto da literatura fantástica.

Deixando de lado esses pormenores, o que aproxima o cangaceiro Jesuíno Brilhante, o escritor Rodolfo Teófilo e o pesquisador Sânzio de Azevedo? As respostas podem até ser as mais variadas (até absurdas), mas a que aqui nos interessa é aquela proposta pelo professor Sânzio de Azevedo ao escrever seu ensaio sobre o livro de Rodolfo Teófilo, Os Brilhantes (1895), analisando a saga de Jesuíno Brilhante, o cangaceiro que virou lenda  no Rio Grande do Norte. 

Sânzio de Azevedo
Sânzio de Azevedo nasceu em Fortaleza no dia 11 de fevereiro de 1938, tendo sido professor da Universidade Federal do Ceará por trinta anos. Autor de mais de vinte livros de ensaio e poesia, Azevedo é a principal referência em literatura cearense em todo o país. Seu livro Literatura Cearense, publicado pela Academia Cearense de Letras, em 1976, embora esgotado, ainda é referência para os estudos da literatura cearense. É impossível pesquisar a literatura cearense sem fazer menção aos trabalhos de Sânzio de Azevedo. E eis que o incansável pesquisador, ocupante da cadeira número 1 da Academia Cearense de Letras, cujo patrono é Adolfo Caminha, publica Rodolfo Teófilo e a Saga de Jesuíno Brilhante (2013). A publicação se dá em decorrência do autor ter sido contemplado com o prêmio Braga Montenegro de ensaio/crítica literária, da Secretária da Cultura do Estado do Ceará.

Na obra em questão, o autor discorre sobre o já citado livro de Rodolfo Teófilo, autor reconhecidamente importante para a compreensão da literatura cearense. Por literatura cearense, concebemos não apenas aquela publicada no Ceará, mas também aquela produzida por um cearense independentemente de onde quer que ele esteja; podendo acrescentar ainda aquela literatura produzida por aqueles que são "cearenses por que querem". Nesse último quesito, inclui-se o próprio Teófilo. Nascido em Salvador, Bahia, no ano de 1853, Teófilo costumava afirmar que: "Sou cearense porque quero". E assim sendo, Rodolfo Teófilo acabou por se tornar um cearense dos mais bravos, determinados e cultos. Sua bibliografia é bastante relevante em quantidade e qualidade, abrangendo os mais variados campos do conhecimento.No que concerne aos romances que publicou, merecem destaque A Fome (1890), Os Brilhantes (1895), Maria Rita (1897) e O Paroara (1899).

Ao discorrer sobre o Naturalismo e a inspiração regional no Ceará, Alfredo Bosi, em História Concisa da Literatura Brasileira (1980) afirma:

Do Ceará, terra de Adolfo Caminha, também provieram outros naturalistas que dariam à região da seca e do cangaço uma fisionomia literária bem marcada e capaz de prolongamento tenazes até o romance moderno (...). A vivacidade desse contexto cultural permitiu virem à luz alguns romances regionais: (...); A Fome (1890), Os Brilhantes (1895) e O Paroara (1899), de Rodolfo Teófilo, livros atulhados do jargão científico do tempo, mas que valem como retorno literário ao pesadelo da seca e da imigração. (BOSI, 1980: 217-218).


O ensaio de Sânzio de Azevedo tomo como objeto de análise a segunda edição do romance Os Brilhantes, publicado em Fortaleza no ano de 1906. Conforme Azevedo, o referido romance trata: "...da história romanceada do criminoso Jesuíno Brilhante e de seu bando, cujas peripécias ficaram famosas, principalmente no Nordeste brasileiro (à época denominado Norte), na segunda metade do século XIX". O ensaio está organizado da seguinte forma: uma introdução na qual o autor teoriza sobre o Realismo e o Naturalismo p.07-24). Em seguida, discorre sobre o cangaço (p. 25-29). A partir da página 30, o pesquisador apresenta a obra, tecendo uma análise detalhada do romance, abordando todos os aspectos constituintes do texto literário de Rodolfo Teófilo (p. 30-80). Na sequência, há uma parte dedicada a animalização do homem, tomando por base teórica o texto A metáfora do corpo no romance naturalista (1973), de Sonia Brayner.

A recepção do livro pela crítica é analisada pelo pesquisador no espaço que vai da página 97 até a página 109. A história de Jesuíno Brilhante e as várias versões que existem para a mesma história também são abordadas no texto de Sânzio de Azevedo desde a página 111 até a 123. A crítica feita por José Veríssimo e as consequentes alterações feitas pelo autor no referido romance estão devidamente comentadas da página 125 até a 129.

Rodolfo Teófilo e a Saga de Jesuíno Brilhante (2013) é mais um trabalho de fôlego do pesquisador Sânzio de Azevedo, vindo confirmar a excelência das suas pesquisas e a dedicação que demonstra aos estudos da cultura cearense, especificamente aqueles ligados à literatura. Os pesquisadores agradecem.

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