
Os trabalhos de Houellebecq abordam temáticas como pornografia, aborto, clonagem e religião. Contudo, o leitor precisa ficar atento para não cair na armadilha de achar que são temas superficiais. Na verdade, o autor francês se utiliza de tais temáticas para explorar o que lhe é mais caro na narrativa. Em outras palavras, o que está na base do "iceberg narrativo houellebecquiano" é toda uma discussão acerca da condição humana. E assim sendo, sua narrativa se constrói na base da elipse, do corte e da provocação; seja uma provocação ao homem, enquanto indivíduo, seja uma provocação ao Estado.
Em perfeita sintonia com as questões do seu tempo, Houellebecq abarca, no contexto da sua narrativa, questionamentos que ditam os caminhos do ser humano na contemporaneidade, sem no entanto resvalar para o panfletário ou para a simplória reprodução de notícias jornalísticas requentadas. Esse, entre outros aspectos, é o que faz da prosa do romancista francês uma das mais relevantes da atualidade.

Organizado em cinco grandes partes, Submissão é narrado em primeira pessoa e tudo que sabemos, enquanto leitores, é o que nos conta François, um professor universitário, narrador do romance. A narrativa é ambientada na França, no ano de 2022. Terminado o segundo turno de acirradas eleições presidenciais, sagra-se vencedor Mohammed Ben Abbes, candidato da Fraternidade Muçulmana, constituindo-se, assim, na França, um regime islâmico, o que acarretará inúmeras mudanças político-sociais naquela sociedade.
O eixo da narrativa de Submissão se constrói a partir das primeiras reflexões acadêmicas de François, quando, como professor que é, discorre sobre os meandros do objeto de pesquisa usado por ele para a elaboração do seu trabalho de Tese, denominado de Joris-Karl Huysmans, ou a saída do túnel, defendida "numa tarde de junho de 2007... na Paris IV-Sorbone" (p.9).

As questões que permanecem após a conclusão da leitura de Submissão vão no sentido de se perguntar: O que é submissão?, A que tipo de submissão se refere a narrativa? Como lidar com o outro? A nova realidade que se impõe aos franceses do ano de 2022 está apenas no âmbito da ficção ou é uma provocação que o autor nos faz acerca das mudanças que se dão, quando fingimos não vê-las?
Assim sendo, o romance Submissão é eivado de ambiguidades e ironias, que apontam para situações de pesadelos, medos e dúvidas; que estão postos na compleição da condição humana e em seu assombro perante uma civilização que,em crise, tateia as gigantescas paredes do labirinto que construiu para si, buscando o fio de Ariadne que, sabemos, há muito tempo se perdeu.
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