quinta-feira, 1 de março de 2018

A ELITE DO ATRASO: DA ESCRAVIDÃO À LAVA JATO, DE JESSÉ SOUZA

Aqueles que ainda acreditavam que poderia existir alguma “bondade” no coração da elite brasileira, parecem ter perdido toda a esperança (e toda a ingenuidade) no curso do ano de 2016. Foi durante esse fatídico ano que a elite predatória brasileira escancarou geral o seu ódio de classe, bem como sua determinação de se manter no poder a qualquer custo. Aos menos favorecidos, a chibata e o açoite. Estava soterrada toda e qualquer possibilidade de emancipação das minorias (na verdade, maiorias). O Brasil e sua elite provinciana, respaldada pelo monopólio da mídia e pela mão pesada do judiciário (que não deve ser confundido com Justiça) passou a prender e arrebentar todos aqueles que insistiam em alguma forma de subversão. Provas? Isso não vem ao caso.

A criatura está fora de controle. Essa ação, no entanto, não é recente, mas sempre se manteve latente desde o período da escravidão. A escravidão continua sob outras formas e os donos do poder nem se dão mais ao trabalho de maquiar seus projetos de manutenção de uma sociedade que atenda apenas aos seus desejos e ansiedades políticas e econômicas. Ao restante da população foi destinada a miséria, a ignorância e o atraso.

É sobre questões desse tipo que trata o livro A elite do atraso: da escravidão à Lava Jato (2017), de Jessé Souza, publicado pela editora Leya. O livro está organizado em quatro grandes partes. A primeira “O racismo de nossos intelectuais: o Brasileiro como vira-lata” (p. 11-35). A segunda parte é denominada de “A escravidão é nosso berço” (p. 36-72). A terceira parte, por sua vez, é “As classes sociais do Brasil moderno” (p. 73-180). Fechando o trabalho, tem-se a parte denominada de “A corrupção real e a corrupção dos tolos” (p. 181-234).

Jessé Souza
O trabalho de Souza opõe-se criticamente ao pensamento sociológico estabelecido no Brasil, a partir dos textos “canônicos” de Sérgio Buarque de Holanda, Raymundo Faoro, Fernando Henrique Cardoso e Roberto DaMatta. As respectivas leituras contribuíram, conforme Souza, para se erigir e manter o complexo de vira-lata do brasileiro, disseminando “a ideia de que a corrupção política é um problema nacional – um problema que teria sido herdado especialmente de nossa formação ibérica. Daí o sucesso da operação Lava Jato numa sociedade ansiosa por remover os males instalados no Estado brasileiro”. Souza considera tudo isso falso e desmonta, sob o ponto de vista sociológico, tais argumentos que, ao longo dos anos, tem sido repetidos sem que sejam questionados.

A elite do atraso: da escravidão à Lava Jato (2017), juntamente com A ralé brasileira: quem é e como vive (2009), ambos de Jessé Souza, já podem ser considerados clássicos indispensáveis para se compreender o que fizeram com esse país e com esse povo.  A leitura é obrigatória!

Um comentário:

  1. Ja li A Rale brasileira, esse ja tava separado pra leitua, agora mais ainda. Ate pelo contraponto as obras canonicas, nas quais vejo importantes reflexoes, mas que devem ser, como tudo, discutidas, nao endeusadas. Ed Jr.

    ResponderExcluir