Após passar um longo tempo da sua vida imerso na sociedade dos habitantes das Ilhas Trobriand, conhecidas hoje como Ilhas Kiriwina, Bronislaw Malinowski escreveu um relatório bastante relevante para os atuais estudos etnográficos. O referido trabalho foi publicado no ano de 1922 com o título de Argonautas do Pacífico Ocidental: um relato do empreendimento e da aventura dos nativos nos arquipélagos da Nova Guiné Melanésia.
Entre inúmeras outras manifestações da cultura desse povo, Malinowski se deteve bastante na utilização que eles faziam da língua. A conclusão a que chegou Malinowski e a qual, posteriormente, chegaria Firth, foi a de que a língua, enquanto fenômeno social está diretamente relacionada à realidade cultural aos hábitos e costumes do povo que a fala, não podendo, conforme Carvalho da Silva (2017), ser explicada sem uma constante referência a esses contextos mais amplos da expressão verbal, ou seja, nenhuma teoria de significado pode ser proposta sem o estudo dos seus mecanismos culturais de referência.
No ano de 1923, Malinowski volta a se debruçar sobre a questão linguística ao publicar no livro O significado de significado: um estudo da influência da linguagem sobre o pensamento e sobre a ciência do simbolismo (1976), de O.K. Ogden e I. A. Richards, o ensaio intitulado “O problema do significado em linguagens primitivas”, no qual afirma que:
Entre inúmeras outras manifestações da cultura desse povo, Malinowski se deteve bastante na utilização que eles faziam da língua. A conclusão a que chegou Malinowski e a qual, posteriormente, chegaria Firth, foi a de que a língua, enquanto fenômeno social está diretamente relacionada à realidade cultural aos hábitos e costumes do povo que a fala, não podendo, conforme Carvalho da Silva (2017), ser explicada sem uma constante referência a esses contextos mais amplos da expressão verbal, ou seja, nenhuma teoria de significado pode ser proposta sem o estudo dos seus mecanismos culturais de referência.
No ano de 1923, Malinowski volta a se debruçar sobre a questão linguística ao publicar no livro O significado de significado: um estudo da influência da linguagem sobre o pensamento e sobre a ciência do simbolismo (1976), de O.K. Ogden e I. A. Richards, o ensaio intitulado “O problema do significado em linguagens primitivas”, no qual afirma que:
A palavra confere
poder, permite ao indivíduo exercer influência sobre um objeto ou uma ação. O
significado de uma palavra resulta da familiaridade, da capacidade de uso, da
capacidade de vociferar, como no bebê, ou da prática direta, como no homem
primitivo. A palavra é sempre usada em direta conjunção ativa com a realidade
que ela significa. A palavra atua sobre a coisa e a coisa solta a palavra na
mente humana. Isso, com efeito, é nada mais nada menos do que a essência da
teoria subjacente no uso da magia verbal. (MALINOWSKI, 1978, p. 318)
Como acréscimo às
proposições acerca da palavra, segundo Malinowski, acrescentamos o posicionamento
de Vilén Flusser (2007):
Cada palavra, cada
forma gramatical é não somente um acumulador de todo o passado, mas também um
gerador de todo o futuro. Cada palavra é uma obra de arte projetada para dentro
da realidade da conversação a partir do indizível, em cujo aperfeiçoamento
colaboraram as gerações incontáveis dos intelectos em conversação e a qual nos
é confiada pela conversação a fim de que a aperfeiçoemos ainda mais e a
transmitamos aos que virão, para servir-lhes de instrumento em busca do
indizível. Qual a catedral, qual a sinfonia, qual a obra que pode comparar-se
em significado, em beleza e em sabedoria com a palavra, com qualquer palavra de
qualquer língua? (FLUSSER, 2007, p. 199).
Em resumo, uma mesma palavra, quando
colocada em um contexto cultural diferente, poderá assumir um novo significado
ou um ressignificado. A atual conjuntura mundial exige que as pessoas
ressignifiquem conceitos e definições já cristalizados em seus léxicos, tempos
e espaços, ou seja, o que no passado se compreendia de uma forma, hoje requer
um nova conceituação, um novo significado.
Essa breve teorização, caro leitor, é
simplesmente uma forma de apresentá-lo ao trabalho de João Doederlein,
conhecido nas redes sociais como @akapoeta (aka = also known as = também
conhecido como). Trata-se do trabalho intitulado O livro dos ressignificados, publicado pela editora Paralela, no
ano de 2017. Doederlein começou a postar seus “ressignificados” nas redes
sociais, tal como fizera a poetisa Rupir Kaur, com o seu Milk and Honey, traduzido para o português brasileiro como Outros jeitos de usar a boca. Após
alcançar um significativo número de leitores, tanto Kaur quanto Doederlein
acabaram publicando o livro físico e, aumentando ainda mais o número de
leitores.
O
livro dos ressignificados está organizado em seis partes, a
saber: “o jardim” (p. 14-49), “o zodíaco” (p. 50-65), “o coração” (p. 66-107), “a
mente” (p. 108-145), “a cidade” (p. 146-171) e “e a história de nós dois” (p.
172-212). Os nomes que dão títulos a cada uma dessas partes são, na verdade, o
primeiro poema de cada parte. São os únicos poemas longos do livro. Na
sequência de cada um desses longos poemas, seguem-se as lexias com as
ressignificações elaboradas pelo autor.
João Doederlein (@akapoeta) |
Cada lexia é ressignificada
semanticamente, mas também o é gramaticalmente, quando o poeta afirma, por
exemplo, que o verbete é um substantivo
masculino, mas começa sua definição como se fosse, na verdade, um substantivo
feminino. O mesmo ocorre quando afirma que é um substantivo, mas o define como
verbo. Essa ressignificação gramatical, que acreditamos ser proposital, contribui
de forma positiva para a beleza das definições propostas pelo poeta.
Os ressignificados de cada lexia constituem-se, por sua vez, como poemas, ou seja, cada ressignificação é a forma de escrever poesia cunhada pelo akapoeta. O resultado ficou muito bom, inserindo o autor de O livro dos ressignificados na mesma linha poética que vem sendo traçada por autoras como Rupi Kaur, Amanda Lovelace e Warsan Shire, por exemplo. O modelo de poesia de akapoeta, no entanto, pela repetição da forma, pode se tornar exaustivo para o leitor, comprometendo seu interesse pela leitura. Isso exige do poeta sua própria e constante ressignificação para as obras que se seguirão ao Livro dos ressignificados. Aguardemos o que virá.
Boa leitura!
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